terça-feira, 17 de maio de 2011

A Economia, As Pessoas e o Meio Ambiente, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira

Fonte: Portal EcoDebate, 12/05/2011

Indiscutivelmente, não há como refutar uma assertiva: crescer economicamente é usar o meio ambiente e, em decorrência desse atual “uso”, crescer significa, grosso modo, “destruir”. Dessa forma, essa premissa pode ser assim reescrita: “Consome-se, logo, destrói-se”. “Produz-se mais, logo, agride-se mais”.

Pois bem. Numa sociedade centrada no uso e na força do dinheiro como elemento potencializador do consumo, outra premissa tende, por primazia, a se estabelecer: “o consumo consome o consumidor”, como diz acertadamente Frei Betto em “A Mosca Azul”.




No entanto, paira diante disso uma crucial e instigadora pergunta: como produzir para atender a desejos de consumo cada vez mais ilimitados se há visivelmente limites e pré-condições impostas e conhecidas pela natureza que impossibilitam, sobremaneira, esse atendimento em escala crescente?

Como há desejo de prontamente atender as necessidades mercadológicas impostas pelo apelo consumista, por sinal cada vez mais voraz, deve-se ter em conta aquilo que Clóvis Cavalcanti chama a atenção com bastante veemência: “mais economia implica menos ambiente”.

Na esteira dessa análise, frequentemente temos visto a incidência de um equívoco conceitual que impera no seio da economia tradicional insistindo em não diferenciar crescimento (aumento – quantitativo) de desenvolvimento (melhoria – qualitativa).

De um lado têm-se a receita tradicional da macroeconomia, qual seja: buscar o crescimento econômico ilimitado. Do outro, têm-se a questão ecológica que atesta a não existência de recursos naturais em quantidades disponíveis para a ocorrência desse tal crescimento.

Conquanto, o que precisa ficar esclarecido é que uma maior produção econômica irá derrubar mais florestas, irá agredir o solo, usar mais água, o ar, a energia, pondo em risco a estabilidade do clima que, por sinal, já vem capenga dada a agressão constante do processo produtivo sobre as coisas da natureza.


Outrossim, crescer além da conta significa aumentar o intercâmbio global de produtos, o que resulta enfraquecer substancialmente o mercado interno em nome do exclusivo atendimento ao modelo de globalização que recomenda como “receita de sucesso” que tenhamos sempre a geladeira repleta de produtos importados.

Ora, é simplesmente insano fazer com que um ketchup, por exemplo, vindo dos Estados Unidos “viaje”, às vezes, mais de 10 mil quilômetros para chegar ao mercado brasileiro quando poderia ser produzido domesticamente e “viajar” menos de 1.000 km para chegar às mesas dos brasileiros. Há um gasto energético intenso envolto nessa “viagem” do ketchup de fora para cá que é altamente agressivo sobre o meio ambiente e potencialmente gerador de CO2. Tomemos outro exemplo: a fruta nectarina produzida em Badajoz, na Espanha, “viaja” quase 400 quilômetros de caminhão queimando combustível até chegar a Portugal, no Porto de Lisboa. De lá vem ao Brasil, chegando ao Porto de Santos vinte dias depois. Imaginemos o quanto não foi gasto em termos energéticos nesse processo.


Isso é inadmissível numa sociedade que já consome em energia e recursos o equivalente a um planeta e 1/3. Acreditar nesse modelo é continuar jogando terra sobre a capacidade de se obter desenvolvimento, pois isso está longe de melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Portanto, diante disso há outra assertiva que não pode ser refutada: se a economia desde seus estudos iniciais emergidos da Filosofia Moral tem como fito precípuo promover o bem-estar das pessoas é impossível aceitar pacificamente que os modelos econômicos continuem ignorando dois elementos fundamentais, as pessoas e o meio ambiente.

Definitivamente, a economia (ciência) só possui sentido de existência se, e somente se, incorporar em suas análises as pessoas e passar, de forma definitiva, a tratar com relevância a questão ambiental, visto que depende dessa para tudo. Historicamente, tanto as pessoas como a questão ambiental tem sido relegadas a um segundo plano, numa visão míope da economia que se sobrepuja arrogantemente sobre o meio ambiente, não reconhecendo ser apenas um subsistema desse meio ambiente. Não incorporando em seus modelos e análises as pessoas e o ecológico, a ciência econômica tende a continuar como está: apenas respondendo pelo crescimento e fechando os olhos para o crucial, o desenvolvimento sócio-ambiental-humano. Não trilhando os caminhos que conduzem a um sistema econômico mais fraterno e ambientalmente saudável, fica a economia cada vez mais longe de seu pressuposto elementar nascido com o intuito de proporcionar melhoria de vida a todos.




Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. É articulista do Portal EcoDebate, do site “O Economista”, da Agência Zwela de Notícias (Angola) e do jornal Diário Liberdade (Galiza, Europa).
Contatos:
e-mail – prof.marcuseduardo@bol.com.br
Twitter – http://twitter.com/marcuseduoliv


terça-feira, 10 de maio de 2011

Movimento Transition Towns chega à Fortaleza


Movimento Transition Towns chega à Fortaleza

Estimular habilidades necessárias para se iniciar um processo de transição que vise à sustentabilidade dos meios urbanos a partir da transformação de cidades insustentáveis, de moradores demasiados consumistas, em cidades menos dependentes do petróleo, com pessoas mais conscientes e interligadas à natureza. É com este objetivo que Fortaleza recebe, nos dias 14 e 15 de maio, o treinamento Transition Towns. Iniciativa da Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano da Prefeitura Municipal de Fortaleza - SEMAM, em parceria com as ONG´s Maloca Sustentável e Cura do Planeta e com o Instituto Nordeste Cidadania – Inec, o treinamento será facilitado pela educadora e designer em sustentabilidade May East – também Diretora da Gaia Education e integrante da rede internacional de treinadores do Movimento Cidades em Transição - e pelo arquiteto e fundador do Instituto Centro de Referência Integração e Sustentabilidade – CRIS, Marcelo Todescan.

Com a idéia de unir e mobilizar pessoas de determinada região, seja moradores de uma rua, de um bairro e até de uma cidade para discutir problemas do meio urbano nos segmentos sociais, ambientais, econômicos e culturais e propor soluções resilientes, o movimento chega a Fortaleza no intuito de ter a sua metodologia aplicada na primeira área de proteção ambiental (APA) administrada pelo município de Fortaleza, a Sabiaguaba.

De acordo com Luciana Campos, Presidente da Maloca Sustentável, “A filosofia e a metodologia do Transition Towns está em consonância com as diretrizes apontadas pelo Plano de Manejo das Unidades de Conservação da Sabiaguaba. Assim, o objetivo do treinamento é capacitar agentes e parceiros para atuarem de forma integrada na implantação do primeiro bairro ecológico de Fortaleza, a Sabiaguaba”.

Para o Coordenador de Políticas Ambientais da Secretaria Municipal de Fortaleza – Semam, Rafael Tomyama, “para que a cidade cumpra seu papel sócio-ambiental de forma adequada, é necessário um planejamento urbano de longo prazo onde se aliem poderes públicos, empresas, universidades e sociedade em geral, por uma vida realmente sustentável. O Movimento Transition Towns (Cidades em Transição) nos leva a refletir e nos mobiliza para a ação de realizar este sonho de cidade sustentável na perspectiva da totalidade, do (re)encontro das pessoas consigo mesmas e com a natureza, da qual somos parte inseparável”.

As cidades em transição crescem cada vez mais no Brasil. Cidades como Brasilândia, Boiçucanga, Granja Viana, João Pessoa, Alto Paraíso de Goiás, Laranjeiras, Cosme Velho, Alphaville, Porto Alegre, Grajaú, Curitiba e Botafogo já entraram no movimento. Agora é a vez de Fortaleza!

O Movimento Transition Towns

O movimento das Cidades em Transição, ou Transition Towns, foi criado pelo inglês Rob Hopkins com o objetivo de transformar as cidades em modelos sustentáveis, menos dependentes do petróleo, mais integradas à natureza e mais resistentes a crises externas, tanto econômicas quanto ecológicas. Hoje o movimento se faz presente em 34 países do mundo. Já são 360 cidades oficiais e mais de 373 iniciativas preparando-se para a Transição. As iniciativas de transição criam um processo promissor que engaja pessoas, comunidades, instituições e cidades para, juntos, pensarem e implementarem as ações necessárias de curto e longo prazo para enfrentar duas questões emergentes que já começam a se fazer sentir: as mudanças climáticas e o pico do petróleo.

Os facilitadores do Treinamento em Fortaleza

Marcelo Todescan
Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie,com 20 anos de experiência. Possui cursos de extensão universitária em Direito Ambiental, nas Faculdades Metropolitanas Unidas, e treinamento em Ecovilas, Permacultura, Bio-construção, Energia Renováveis, Saúde nas Ecovilas e Ecologia Profunda. Membro da Ecovillage Network of the Américas – Brasil, Gaia Education e Transition Towns. Sócio do escritório Todescan Siciliano Arquitetura, membro e Fundador do Instituto CRIS Referencia Integração Sustentabilidade. Membro Fundador da revista GEA – Global Ecologia Arquitetura, e membro, articulador e treinador oficial da rede Transition Towns Brasil.
May East
Educadora e designer para Sustentabilidade. Trabalha internacionalmente com o movimento global das ecovilas e como consultora de assentamentos humanos sustentáveis e cidades em transição. Mora há 19 anos na Ecovila Findhorn da Escócia, onde é Diretora de Relações Internacionais entre Findhorn Findhorn e Global Ecovillage Network junto a ONU. É Diretora do Programa Gaia Education, um consórcio internacional de designers de sustentabilidade presente em 23 países. Membra do CEO do CIFAL Findhorn, Centro de Treinamneto Associado a UNITAR- United Nations Institute of Training and Research, que oferece treinamentos em design ecológico para urbanistas e autoridades locais. May faz parte da rede internacional de treinadores das Cidades em Transição.