segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O lado escuro da comida

A indústria da comida nunca produziu tanta tranqueira. Seu prato polui mais que o seu carro. E estamos sendo envenenados por pesticidas.

Frango. Água. Maisena modificada. Soda para cozimento. Sal. Glicose. Ácido cítrico. Caldo de galinha. Fosfato de sódio. Antiespumante dimetilpolissiloxano. Óleo hidrogenado de soja com antioxidante TBHQ. Isso agregado a mais 26 ingredientes é o que conhecemos pelo nome de nugget. A receita é produto de um sistema que faz de lasanha congelada a tomates mais ou menos do mesmo jeito que se fabricam canetas, ventiladores ou motos. É a agropecuária industrial. Ela começa nos combustíveis fósseis. Petróleo carvão ou, mais comum hoje, gás natural são a matéria-prima dos fertilizantes. E os fertilizantes são a matéria-prima de tudo o que você come hoje, seja alface, seja dois hambúrgueres, alface, queijo e molho especial - no pão com gergelim.

Sem eles para anabolizar as plantações, não haveria comida para todo mundo, (assim pensa a Indústria Agrícola). O problema é que, com eles, podemos ficar sem mundo. "Na porteira da fazenda, ainda antes do uso, um saco de 100 quilos de fertilizante químico já emitiu 4 vezes esse peso em CO2 para ser fabricado. Depois que aplicam no solo, pelo menos 1 quilo daquele nitrogênio (elemento principal do fertilizante) é liberado para o ar em forma de óxido nitroso, um gás quase 300 vezes pior para o aquecimento global do que o CO2", diz o agrônomo Segundo Urquiaga, da Embrapa. Nessa toada, a agropecuária consegue emitir sozinha 33% dos gases-estufa do mundo, mais do que todos os carros, trens, navios e aviões juntos, que somam 14%.


Além disso, os fertilizantes deixam resíduos debaixo da terra que chegam aos lençóis freáticos e acabam no mar. Mas isso é pouco comparado ao que a comida moderna pode fazer ao seu corpo. Voltemos ao nugget.

VOCÊ É FEITO DE MILHO E SOJA
Os empanados de frango são um dos ícones da indústria de alimentos, baseada, como qualquer outra, em mecanização, uniformização, produtividade. Essas exigências levam a um fato curioso: há quase 40 ingredientes diferentes em um nugget, mas 56% dele é milho.



A maisena é farinha de amido de milho - o ácido cítrico, a dextrose, a lecitina, tudo é feito com moléculas desse grão. Ou com grãos de soja, dependendo do que estiver mais em conta no mercado de commodities agrícolas (pensando bem, até a galinha é feita de milho e soja - é isso que ela come de ração. Metade da área plantada no Brasil é dominada pela soja, que aparece em 70% dos alimentos processados. E um terço das plantações americanas são lavouras de milho Isso acontece porque soja e milho produzem mais calorias que a maioria das plantas; são resistentes ao transporte e a anos de estocagem, entre outras vantagens competitivas.



Mas qual é o problema de chegar a essa variedade de comida com apenas dois grãos? Os bois podem dar uma primeira resposta.

No mundo desenvolvido, praticamente toda a carne sai das fazendas de confinamento - galpões onde os bois passam a vida praticamente empilhados uns nos outros, só engordando. Nesses galpões, a comida do boi não é capim, mas ração à base de milho e soja. O inconveniente é que ele não come grãos. Industrialmente falando, um boi é uma máquina que transforma celulose de capim (algo que o nosso organismo não digere) em proteína comestível - a carne dele. Mas capim é bem menos calórico que milho e soja. Para ele crescer rápido e ir logo para o corte, tem que ser ração mesmo. Só que o metabolismo do bicho pena para processar tanta comida indigesta. A fermentação dos grãos no sistema digestivo dele pode causar um inchaço do rúmen (o estômago do boi) que pressiona os pulmões e pode matar o animal. Para combater isso, os criadores enchem os bois de antibiótico: 70% dos antimicrobiais usados nos EUA são misturados às rações de animais. O problema é que isso cria superbactérias resistentes a antibióticos. É Darwin em ação: os antibióticos nem sempre matam todas as bactérias. Às vezes sobram algumas que, por mutação genética, nasceram imunes ao remédio. Sem a concorrência de outras bactérias, elas se reproduzem à vontade. Nasce uma cepa de micro-organismo mais resistente a qualquer antibiótico. Ela podem ser letal. Ainda mais se for parar na prateleira do supermercado.


Foi o que aconteceu com uma variedade agressiva de Escherichia coli. Em 2001, o garoto americano Kevin Kowalcyk, de 2 anos de idade, comeu um hambúrguer contaminado por essa bactéria e morreu 12 dias depois. O caso produziu algo inusitado: um recall de hambúrguer.

No Brasil isso não é um problema. Só 6% do nosso abate vem de confinamentos, contra 99% nos EUA. Aqui os bois ficam soltos. Bom para eles, pior para as bactérias. Mas pior também para as florestas. Nossos pastos são formados à custa de desmatamento da Amazônia e do cerrado. E isso leva o Brasil ao posto de 5º maior emissor de CO2 do mundo. Quase 52% dos nossos gases-estufa vêm do desmatamento. Para frear isso de forma realista (porque parar de criar bois e de exportar carne não tem nada de realista), a solução é o confinamento. Só que essa modalidade de criação também não é a panaceia para o ambiente. Os galpões de gado causam tantos impactos quanto uma cidade grande: lixo, esgoto, rios poluídos... Até mais, na verdade. Só os animais confinados que existem hoje nos EUA produzem 130 vezes mais dejetos do que todos os americanos juntos.

Todo esse cocô vai para grandes lagos de esterco, que servem de parque aquático para bactérias: elas podem passar desses lagos para o solo de uma lavoura. Podem e conseguem. Só de recalls de vegetais contaminados por E. coli já foram 20 na última década nos EUA. Em 2009, um surto de salmonela matou 8 pessoas e adoeceu 600 por lá. Grave. Mas não deixam de ser casos isolados. O maior problema da comida hoje é outro: o fator Roberto Carlos.

IMORAL E ENGORDA
O Rei estava certo quando disse que tudo o que ele gosta é imoral, ilegal ou engorda. Comida gostosa, mas gostosa mesmo, viciante, só é boa porque é calórica - os aspargos que nos perdoem, mas gordura e açúcar são fundamentais. Não para a saúde, mas para o cérebro. Ele gosta mesmo é de porcaria. Nosso cérebro nos recompensa com doses de dopamina cada vez que comemos algo bem calórico, energético. É que no passado isso era questão de sobrevivência - havia pouca comida disponível, então quanto mais calórica ela fosse, melhor. A massa cinzenta dá essa mesma recompensa dopamínica depois do sexo ou de drogas pesadas. Por isso mesmo basta experimentar qualquer uma dessas coisas uma única vez para ter vontade de repetir. Com comidas energéticas, recheadas de carboidratos ou gorduras, não é diferente, você sabe. É impossível comer um só.


E a indústria dos alimentos se formou justamente em torno das comidas que mais liberam dopamina. Isso começou no final do século 19, com o início da produção em massa de açúcar e farinha de trigo refinada. Refinar uma planta significa estirpá-la de suas fibras, proteínas, minerais e deixar só o que interessa (pelo menos do ponto de vista do cérebro): carboidrato puro, energia hiperconcentrada. Depois vieram conservantes mais potentes (como o antiespumante e o antioxidante lá do nugget) e o processamento artificial, com máquinas que transformam carcaças de bichos e um monte de subprodutos de milho e de soja em coisas bonitas e de sabor viciante. Começava a era da comida industrializada. A nossa era.

E a produção de alimentos nunca mais seria a mesma. O cérebro do consumidor guia a indústria dos alimentos. Esse cérebro prefere comida turbinada por açúcar e gordura, certo? Então a seleção natural age de novo, mas dessa vez no mercado: só sobrevive quem produz comida mais gostosa. E a mais gostosa é a gorda (olha o Robertão aí de novo!). Natural, então, que o mercado de comida processada acabasse dominado por bombas calóricas. Nosso amigo nugget, por exemplo, recebe doses extras de gordura (óleo hidrogenado de soja) e também de açúcar (a glicose). Mais do que alimentar, a função dele é dar prazer.


Mas é um prazer que pode custar caro. Um "suco natural" industrializado, por exemplo, pode ter até duas colheres de açúcar para cada 200 mililitros. Nosso corpo não é adaptado para suportar doses cavalares como essa o tempo todo. A produção de insulina, por exemplo, pode sobrecarregar e dar pau - e sem esse hormônio, que gerencia o processamento de acúcar no organismo, você se torna diabético.

Nos EUA, 1 em cada 10 adultos tem diabetes - duas vezes mais do que em 1995. E a perspectiva é que essa proporção triplique nas próximas décadas, agora que 1,6 milhão de novos casos são diagnosticados por ano. Para completar, 70% da população é considerada acima do peso. E nós aqui no Brasil estamos indo por esse caminho. Quanto mais a economia cresce, maior fica a nossa cintura. No meio dos anos 70, quando o IBGE mediu pela primeira vez o peso da população, 24% dos brasileiros estavam acima do peso. Hoje são 50%.


O aumento de peso pode ser o resultado mais visível de uma dieta inadequada. Mas quem está na parcela sem pneuzinhos da população também corre riscos. Principalmente por causa de outro ingrediente-chefe da comida industrializada: o sal. "A maior parte do sal que a gente consome não está nos saleiros, mas nos alimentos processados" diz Michael Klag, diretor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade John Hopkins, nos EUA. O sal é adicionado para ajudar a preservar o produto e, principalmente, reforçar o sabor. E ele acaba onde você menos espera. Está nos cereais de café da manhã e até nos achocolatados - para deixar o chocolate menos enjoativo.

A Organização Mundial da Saúde recomenda o consumo de, no máximo, 6 gramas de sal por dia para evitar pressão alta - e as doenças que ela causa. Os brasileiros comem o dobro disso. De acordo com a Ação Mundial pelo Sal e pela Saúde, uma organização que reúne membros em 81 países para tentar diminuir o consumo global de sal, se a população mundial comesse apenas os tais 6 gramas de sal por dia, haveria 24% menos casos de ataques cardíacos pelo mundo e 18% menos derrames.

Os hábitos alimentares de hoje podem estar contribuindo também para um aumento em alergias alimentares e doenças intestinais. Para você ter uma ideia, o número de pessoas internadas em hospitais por causa de alergias nos EUA quadruplicou entre 2000 e 2006 (de 2 600 para 9 500 pessoas por ano). O maior suspeito aí é a falta de fibras da comida industrializada.

Uma pesquisa liderada por Paolo Lionetti, da Universidade de Florença, analisou a flora intestinal de crianças italianas e comparou com a de garotos de Burkina Fasso, na África, que têm uma dieta rica em fibras e nunca viram comida processada. Então descobriu que as crianças africanas tinham uma flora intestinal mais variada, capaz de protegê-las de uma série de doenças. "Acredito que a dieta dos países ocidentais tem um papel importante no aumento das alergias e infecções intestinais", diz Paolo.


Os nuggets, pizzas congeladas e cia. não são o único problema. A comida reconhecidamente saudável também tem seus pontos fracos. Dados dos governos americano e inglês mostram quedas nas quantidades de ferro, vitamina C, riboflavina, cálcio, zinco, selênio e outros nutrientes em dezenas de colheitas monitoradas desde os anos 50. Hoje, você tem que comer 3 maçãs para ingerir a mesma quantidade de ferro, por exemplo, que uma maçã fornecia. São várias as razões que poderiam justificar esse fenômeno. Parte da explicação pode vir dos critérios que usamos no melhoramento genético, selecionando variedades de milho, soja e outras plantas segundo a produtividade, não a qualidade nutricional. Pior: nossas plantas criadas à base de fertilizantes, como crescem mais rápido, têm raízes menores e menos tempo para acumular nutrientes além daqueles que vêm no próprio fertilizante. Mais: poupadas de lutar contra insetos pelo uso de pesticidas, estariam produzindo menos polifenóis - substâncias que usam como mecanismo de defesa e que nos beneficiam por suas ações anti-inflamatórias e antialérgicas.

Tão fundamentais para a agricultura moderna quanto os fertilizantes são os pesticidas. Ainda mais com as monoculturas sem fim de hoje. Imagine o que acontece quando um inseto que tem na raiz da soja seu prato preferido topa com hectares e mais hectares onde só existe essa planta? Ele não arreda mais o pé dali, se reproduz vertiginosamente e traça tudo o que vê pela frente: eis uma praga agrícola. Elas não são novidade. Mas claro que, com a demanda por alimentos que existe hoje, seja ou não comida industrializada, a agricultura atual acredita que não dá para abrir mão deles.

No Brasil, menos ainda. O surgimento de novas pragas, como a ferrugem de soja (um fungo nocivo), transformou o país no maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Superamos os EUA nesse quesito em 2008, quando o mercado de defensivos agrícolas movimentou mais de US$ 7 bilhões no país. A façanha tem consequências. Em junho passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou o relatório anual sobre a presença de resíduos de agrotóxicos nas frutas, verduras, legumes e grãos que o brasileiro consome. Das 3 130 amostras de 20 culturas de alimentos estudadas pela agência em 2009, 29% apresentaram alguma irregularidade.

O mais seguro é comprar alimentos orgânicos. Eles não recebem veneno em nenhum momento, desde o plantio até a gôndola do supermercado. Nem veneno nem fertilizante químico. Então são mais saudáveis para o ambiente. E a quantidade de nutrientes por centímetro cúbico é maior.

Estudos mostram que daria para alimentar o mundo só com orgânicos. Mas só se o consumo de carne diminuir. O que uma coisa tem a ver com a outra? É que boa parte do que plantamos é para alimentar animais de criação. Uma peça de picanha, por exemplo, exige 75 quilos de vegetais para ser produzida. Só que o mundo está cada vez mais carnívoro - a China, depois de ter virado a 2ª maior economia do mundo, passou a comer 25% de toda a carne do planeta. Hoje temos 20 bilhões de animais de criação, e a perspectiva da ONU é que esse número vá dobrar até 2050.

Overdose de gordura e açúcar, fertilizantes que dependem de combustíveis fósseis e destroem ecossistemas... Estamos no fim da linha, então? Sim.

Agora, precisamos de mais revoluções. Uma, a da conscientização sobre os perigos do fast food e da comida processada, já começou. Atentem para o que você consome como alimento!Proteja sua saúde! Proteja o planeta!

Fonte: Artigo publicado na Super Interessante

sábado, 29 de janeiro de 2011

O preço de não escutar a Natureza - por leonardo Boff


O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro – Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo -, na segunda semana de janeiro de 2011, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam frequentemente deslizamentos fatais.

Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que distribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.

A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco, pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue ao nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrário, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.

Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que aí viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.

Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras. O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela Terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam. Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d’água. Chico Mendes com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.

No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas. Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais freqüentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e morar.

Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser de cada encosta, de cada vale e de cada rio.

Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.

Leonardo Boff é filósofo e teólogo. Este artigo foi publicado originalmente no portal EcoDebate.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Pare Belo Monte!!!!!!


Caros amigos,

Chegou a hora de agirmos! O governo acaba de aprovar uma licença “parcial” que libera a derrubada de árvores para iniciar o canteiro de obras para a construção da usina de Belo Monte.

A decisão já teve forte repercussão, o Ministério Público Federal no Pará declarou que a licença é ilegal e não poderia ser emitida sem o cumprimento das condicionantes ambientais. Mas a Presidente Dilma está se fazendo de surda.

Somente uma mostra da indignação geral de brasileiros de todo o país conseguirá persuadir ela a revogar a licença. Nós sabemos que a pressão funciona! Vamos ajudar a proteger a nossa preciosa floresta e conseguir arevogação da licença ilegal. Se não agirmos, a floresta começará a ser derrubada, a construção dos canteiros de obra iniciará e ficará cada vez mais difícil reverter esse quadro.

Vamos assinar a petição contra Belo Monte, mostrando que estamos atentos e prontos para impedir a destruição do Rio Xingu.

Assine agora a Petição e divulguem para o maior número de pessoas assinarem!
http://www.avaaz.org/po/pare_belo_monte?fp


Belo Monte seria maior que o Canal do Panamá, inundando pelo menos 400.000 hectares de floresta, expulsando 40.000 indígenas e populações locais e destruindo o habitat precioso de inúmeras espécies -- tudo isto para criar energia que poderia ser facilmente gerada com maiores investimentos em eficiência energética.

Para saber mais:
#Pare Belo Monte, Le journal - http://paper.li/tag/PareBeloMonte

Rio Xingu, em área onde deverá ser instalada a usina. (Foto: Divulgação Conservação Internacional)

Cartilha “Código Florestal – Entenda o que está em jogo com a reforma da nossa legislação ambiental”‏


Foi lançado no último dia 27 de janeiro, a cartilha “Código Florestal – Entenda o que está em jogo com a reforma da nossa legislação ambiental”. Organizada pela SOS Florestas, conjunto de entidades sem fins lucrativos que reúne ONGs como WWF-Brasil, Greenpeace, Imaflora e Apremavi, o texto abre com um histórico sobre o Código Florestal (CF) e os principais acontecimentos relacionados aos usos do solo e recursos naturais no país. Através dele, por exemplo, os leitores vão descobrir que o CF foi criado em 1934, pelo então presidente Getúlio Vargas. À época, o texto dizia que nenhum proprietário poderia derrubar acima de três quartos da área total de seu terreno.

O documento também aponta um dos principais motivos pelos quais a ofensiva da bancada ruralista é tão forte hoje no Congresso Nacional contra a atual legislação: a Lei de Crimes Ambientais, de 1998, com penas maiores para infratores. Dez anos depois, um conjunto de medidas publicado pelo governo previa, por exemplo, o fim do financiamento bancário para proprietários em débito com as determinações federais. Mais uma afronta direta aos ruralistas.

Ainda neste primeiro semestre de 2011, os deputados devem votar o Projeto de Lei 1.876/99, cuja relatoria foi de Aldo Rebelo (PCdoB/SP), que visa derrubar o CF e criar uma lei muito mais permissiva. A cartilha, no entanto, ajuda a desmistificar as críticas mais usadas contra o Código pelos seus detratores. De acordo com um estudo da Universidade de São Paulo (USP), o tamanho das áreas cultivadas no país poderia ser dobrado caso aquelas com pecuária de baixa produtividade fossem realocadas (cerca de 61 milhões de hectares).

Além disso, pesquisadores da USP, UNESP e UNICAMP divulgaram cartas na conceituada revista Science dizendo que as alterações propostas levariam à perda de biodiversidade, acréscimo nas emissões de carbono e assoreamento dos corpos hídricos. Vale ressaltar que um estudo do WWF-Brasil em cinco cidades reconhecidas pelas suas produções de maçã, café e uva, nas regiões sul e sudeste, mostrou que menos de 5% do espaço usado pelas culturas encontra-se dentro de Áreas de Preservação Permanente (APPs). Os mais relevantes movimentos sindicais e sociais do Brasil, como a Via Campesina e o MST, também assinaram um manifesto contrários ao projeto de Rebelo.

O documento da SOS Florestas passa, ponto a ponto, por todas as mais significativas mudanças e aponta as suas consequências. A redução das APPs, por exemplo, vai gerar ameaças à segurança com aumento dos riscos de inundações e desabamentos, além de causar prejuízos diretos para a fauna e flora e controle da demanda biológica de oxigênio. A isenção da reserva legal (porcentagem do terreno que precisa ser conservada, varia de bioma para bioma) em propriedades com até quatro módulos fiscais também é crítica, porque pode estimular a compra de pequenas fazendas por médios e grandes latifundiários.

A cartilha defende, em seu final, que o processo de discussão de alterações no Código Florestal deve ser feito de forma calma e aberto a todos os setores da sociedade, sem esquecer que o caminho passa por facilitar a aplicação da conservação da natureza.

Acesso à cartilha: http://www.oeco.com.br/images/stories/file/Jan2011/cartilhaCF20012011-lowres3.pdf

(Fonte: O Eco)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011


A busca de novas alternativas para diminuir o déficit habitacional de países em crescimento como Brasil, e a demanda por tecnologias construtivas cada vez menos agressivas e degradantes ao meio ambiente foi o que impulsionou o trabalho dos construtores de uma casa recém construída nos EUA.

A habitação construída na cidade de Ashville, no estado Americano da Carolina do Norte, tem 315 metros quadrados e foi feita a partir da fibra vegetal do cânhamo, extraída da Cannabis, popularmente conhecida no Brasil como Maconha.

Não se trata exatamente da mesma Cannabis usada para fins recreativos e que contém grande quantidade de THC( princípio psicoativo do vegetal), essa na verdade é uma variedade industrial e que tem um teor baixíssimo do Tetra-Hidro-Cannabinol (THC).Este tipo de canhamo é usado há séculos para produzir tecidos, cordas e também material de construção. O papel onde foi escrita a constituição americana e as velas das embarcações que trouxeram Cabral ao Brasil eram feitos com maconha.

A mistura das fibras da planta com cal e água resultam no Hemcrete (o betão). É difícil encontrar material melhor para uma construção sustentável. Para começar é neutro em gases do efeito estufa, porque, ao ser desenvolvido, o cânhamo sequestra carbono numa proporção de 22 toneladas por hectare plantado. Também cresce rápido e é simples de cultivar. O resultado é um material barato e durável — uma ótima herança para filhos, netos, bisnetos, etc. — com vida útil estimada entre 600 e 800 anos. Não tem qualquer tipo de toxina. Segundo o construtor, nenhuma outro material mantém o ar da casa tão puro.

Mas por ser uma variedade de Cannabis, o canhamo industrial sofre preconceitos. Mesmo sendo inapropriado para a produção da droga, o seu cultivo é proibido nos EUA, o mesmo país onde 19 estados já legalizaram a produção de maconha medicinal, aceita como tratamento complementar de doenças em que é preciso aliviar a dor ou aumentar o apetite do paciente. Para construir esta casa, foi preciso importar a matéria-prima da Europa.

Além da estrutura de canhamo, a casa de Ashville usa outros materiais sustentáveis. O principal é o PurePanels, usado em paredes e portas e produzido 100% com pasta de papel reciclado.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Resultados das análises de rios em 2010 mostram que é preciso mobilização pelas águas


A SOS Mata Atlântica divulgou o resultado das análises de 43 rios, córregos e lagos brasileiros realizadas em 2010, durante a passagem da exposição itinerante “A Mata Atlântica é Aqui” por 39 cidades de 12 estados brasileiros, nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. A situação é preocupante: nenhum dos corpos d´água analisados obteve avaliação positiva; 70% ficaram dentro do nível “regular”, 25% dentro do nível “ruim” e 5% dentro do nível “péssimo”.

Nenhum dos pontos de coleta de água pôde ser classificado com índices bons ou ótimos, o que aponta a grande necessidade de mobilização da sociedade para melhoria da qualidade da água em todos os estados. A coordenadora do Programa Rede das Águas, Malu Ribeiro, reforça a importância de manter a atenção em torno do tema. “A mobilização da sociedade é fundamental para a conservação da água, pois embora seja um recurso natural essencial à vida ainda é tratada com descaso. Os índices de saneamento básico e de áreas de preservação permanente conservadas no país são muito baixos, o que reflete em ameaça à saúde da população. O ano de 2010 foi bom para o Brasil tratando-se de consumo e mercado, mas se olharmos para índices de qualidade ambiental, é assustador. Encontramos rios cada vez mais comprometidos, mesmo em regiões em que imaginávamos boas condições”, explica. Malu ressalta ainda que a população local pode se envolver mais e formar grupos para acompanhar a situação destes rios e, dessa forma, cobrar medidas adequadas das autoridades.

Veja mais detalhes no portal e no blog da SOS Mata Atlântica.
www.sosma.org.br

Fonte: Informativo Ecos da Mata, nº 308 - SOS Mata Atlântica

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um dia mágico no sertão

Por: Drica Oliveira

Aterrizamos em mais uma terra distante. Chegamos já com a lua alta e atravessamos o portal de entrada com a permissão de seu Maninho. Ainda pela noite, logo em seguida a nossa chegada, houve uma roda para apresentações e planejamento das ações do dia de trabalho a seguir. Estavam ali reunidos grupos de ações permaculturais como Neppsa, Maloca, INEC e voluntários diversos. Éramos um grupo de umas 20 pessoas. Fui dormir cansada, já tarde da noite, mas muito feliz pela semana repleta de arte que havia passado em nossas vidas.


A rotina começou cedo: 6:30h já estava na cozinha preparando as frutas para o dejejum. Agradecemos e comemos com alegria, todos reunindo forças para um dia longo de diversos trabalhos permaculturais. Logo iniciamos nossa produção e ajudamos Dora, Juliana e Luciana a entrarem no clima colorido do cortejo. A sala de aula da escolinha transformou-se em camarim: adereços e figurinos espalharam-se com suas cores diversas por todo o espaço ajudando a ancorar o encantamento artístico. A palhaça Lála entrou em ação com seu infalível companheiro o palhaço Malabarista Maluco que ainda não havia descoberto nessa época seu verdadeiro nome. As crianças começaram a nos descobrir ainda dentro da sala e seus olhinhos brilhantes e bocas entreabertas nos deram um sinal do que viria a seguir...

Enfeitamos uma carroça com balões e seguimos cantando amor sertão a dentro. Nossas cores contrastavam na paisagem agreste da mata branca. “Surreal” percebia Juju. E no caminho do açude, dentro da mata abriu-se uma flor...




A chegada foi uma surpresa tão imprevisível que o choro assustado misturou-se a olhares curiosos. As crianças nos olhavam com espanto e interesse. Um misto de emoções próprio às experiencias novas que vivenciamos. Pouco a pouco fomos visitando o universo da comunidade do Sussuí. Em cada casa um sorriso: alguns bem abertos, outros muito tímidos, mas todos de uma simplicidade encantadora. Tínhamos a missão com esse cortejo de convidar os moradores para a apresentação do novo projeto na escola às 16h e sabíamos que com nossos malabares e roupas coloridas havíamos despertado a curiosidade geral.












Descansamos um pouco depois do almoço: haviam sido horas sob o forte sol do semi-árido. Quando despertamos olhos curiosos já nos espreitavam atrás da porta. Ensaiamos e ajustamos os últimos preparativos para a apresentação da esquete que havíamos montado com ajuda da nossa amiga clown Helena. Junior estava encarregado do som e Luciana estava sempre ao nosso apoio. Houve o círculo de mulheres e iríamos nos apresentar logo após a apresentação do projeto pelo professor Oriel. A adrenalina tomava conta dos nossos sentidos. Os morados chegavam em grupos, as crianças vestidas em suas melhores roupas mal continham a expectativa. Todos se acomodaram na pequena plateia improvisada com cadeiras e pufes de garrafas pet na varanda da escola.




Entramos em cena enquanto o sol ensaiava a sua despedida. Uma energia de alta frequência envolveu a todos na mesma vibração. Vibrávamos com as risadas do público atento e sabíamos que eles vibravam a cada movimento nosso. Foi mágico entrar em cena para aquelas pessoas. Saímos de cena com os corações transbordando dessa energia e fomos recebidos pelo sol alaranjado que ia se pondo no horizonte do sertão. Rafa e eu agradecemos unidos pela magia presente naquele momento.








Sem perder essa vibração nos preparamos rapidamente para o fogo que iria encerrar o dia. Foi justo naquele momento do anjo onde o céu ainda está aceso, mas as cores alaranjadas e róseas já deram lugar aos tons sombreados de azul, que entramos e giramos nosso fogo. Desenhamos mandalas no ar, raios de luz rastreando o céu azul, o calor do fogo aquecendo os corpos e o espaço. Ali houve transmutação. Ali o fogo foi apresentado com respeito, como um elemental e assim cumpriu sua missão encerrando o dia mágico no sertão.







(Um pequeno poema rabiscado ao fim do dia)

Sussuí encantada
Foi brilho e risada
Cores na mata branca
No ar riso de criança
E sol se escondendo atrás da gente
Energizando simplesmente
No coração daquelas crianças
Ficou um pouco de mim
No meu coração ficou um pouco de ti
Essa é a mais pura magia
Que pode existir na terra
Amor, amor, amor
De baixo de um céu estrelado
Olhava aquela cor
Os olhos cheios
Refletindo o espelho d'água
Jorrando luz d'alma
Gratidão brotando no coração
A lua vermelha nascendo
Imundando o sertão

Por: Drica Oliveira

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Exposição Itinerante começa o ano em Sobral e Tianguá (CE)


A partir de 12 de janeiro, o projeto “A Mata Atlântica é aqui – exposição itinerante do cidadão atuante” retoma suas atividades no Nordeste, passando pelas cidades de Sobral e Tianguá, ambas no Ceará, nas próximas duas semanas. Em Sobral, o caminhão estacionará na Praça João Dias, de 12 a 16 de janeiro. Já em Tianguá, ficará na Praça do Eucalipto, de 19 a 23 de janeiro.

A população das duas cidades poderá participar de palestras, oficinas, jogos educativos, exibições de filmes e maquetes, monitoramento de água, biblioteca para consultas, entre outras atividades gratuitas. O horário de funcionamento nas duas cidades é das 16h às 21h na quarta-feira, das 15h às 21h de quinta-feira a sábado, e das 12h às 18h no domingo. Qualquer pessoa pode participar, e o projeto conta com uma estrutura própria para receber deficientes físicos.

Para esclarecer dúvidas, agendar visitas monitoradas de grupos ou escolas ou inscrição para ser voluntário, escreva para itinerante@sosma.org.br ou ligue para (11) 3055-7886. A exposição itinerante, que já passou por 70 cidades em 16 estados brasileiros mais o Distrito Federal, tem o patrocínio de Bradesco Cartões, Natura e Volkswagen Caminhões & Ônibus e em Sobral conta com apoio local da Secretaria do Planejamento, Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente e do Projeto Tamar. Mais informações e a programação completa no site www.sosma.org.br.

Fonte: Informativo Ecos da Mata nº308 - 11/01/2011