domingo, 27 de fevereiro de 2011

Consumismo ecológico, artigo de Janos Biro


Consumindo desenvolvimento sustentável

A grande questão da discussão ecológica tem sido como conciliar padrões sustentáveis de consumo com uma economia baseada no desenvolvimento acelerado dos meios de produção. Segundo Ruscheinsky, esta é uma questão de poder. Se o consumidor está submetido a um sistema econômico insustentável, ele não tem o poder de fazer escolhas que levam a um consumo sustentável. Mesmo que o consumidor seja um agente econômico autônomo, ele só pode sê-lo na medida em o sistema econômico do qual depende valoriza isso. Dizer que o consumo sustentável, ético, responsável e consciente é uma questão de escolha do consumidor é no mínimo insuficiente. Qual o significado desses adjetivos para o consumidor? Ao que parece, o consumidor depende da cultura de consumo para definir o que é sustentável. O consumo sustentável quase sempre se refere ao consumo de tecnologias e produtos considerados mais ecológicos. Então, voltamos à estaca zero. A cultura não pode ensinar aos indivíduos o que é ser sustentável, ético, responsável e consciente, porque ela mesma não sabe o que é isso. Não reconhecemos o que é ser sustentável numa cultura que depende de desenvolvimento econômico e tecnológico acelerado. Usamos essa palavra sem ter noção do que ela significa em termos práticos fora da lógica do consumo.

O discurso ecológico coloca o consumidor como protagonista, como agente multiplicador de ações políticas e privadas que visam a sustentabilidade. Ele deve entender o que motiva o consumo e saber separar necessidades reais de necessidades criadas. Mas como o consumidor fará isso?

Sua ecologia vale dinheiro

A questão é que a “consciência ecológica” está sendo propagada pelos meios de comunicação que estão sob controle do sistema econômico. Eles têm um bom motivo para propagar essas idéias supostamente contrárias à cultura vigente. Baseiam-se na crença de que a maximização da produção e a socialização de benefícios podem ser compatíveis com a minimização do impacto ambiental causado pela extração dos recursos naturais. Isto é, usam o critério da eficiência da produção. Esse critério vem do próprio desenvolvimento do capitalismo enquanto racionalização das relações em função da produtividade. Ele parte da crença de que é possível uma harmonia entre bem-estar social e eficiência dos meios de produção. Em outras palavras, o que é propagado hoje como sendo consciência ecológica é uma consciência ideologicamente bem adaptada ao espírito do capitalismo. Ela se apóia na crença de que basta racionalizarmos o uso das tecnologias e dos meios de produção, e tudo ficará bem, como se o problema fosse o modo de produção, e não o modo de vida baseado na produção e no acúmulo de bens materiais. A revolução ecológica é proposta no formato de um novo contrato social, que define limites de exploração e garante o consumo para os desfavorecidos, redistribuindo os meios de produção para a população. Quando se diz que “outro sistema é possível”, o que se quer dizer é: “podemos ser sustentáveis sem abrir mão dos nossos prazeres favoritos”.


Por um lado alguns autores acusam o discurso ecológico de ser dogmático ou fundamentalista, porque parece tratar de pecados ambientais, perdição industrial, apocalipse climático, revelação de uma verdade oculta, conversão subjetiva a um novo paradigma e redenção por meio de novas tecnologias e até mesmo de um novo homem. Por outro lado, os adeptos do movimento azul, que unem a ecologia com as questões econômicas, defendem uma espécie de “ecologia da prosperidade”. Eles parecem estar tão bem adaptados à globalização quanto os pastores da nova espiritualidade evangélica, que também abandonaram a perspectiva tradicional e se voltaram para as possibilidades mundanas de desenvolvimento.

Economizando a natureza

Talvez esteja sendo gerada a crença de que se investirmos uma parte do nosso lucro para a preservação da natureza, então nós vamos prosperar ecológica e economicamente. O discurso eco-econômico diz que a preservação da natureza só será possível quando os bens naturais forem contabilizados como parte do mercado. Ou seja, a ecologia só passa a ser possível dentro do discurso econômico. É isso que está acontecendo quando se fala de créditos de carbono, pegada ecológica, capital natural… Estabelecemos uma relação economicamente racionalizada com a natureza enquanto fonte de recursos materiais. O emblema desse eco-capitalismo é o planeta sendo segurado por mãos humanas.


A figura central da revolução ecológica é o consumidor. Quem é o consumidor? O consumidor não é uma pessoa, é um papel assumido por uma pessoa. O papel de consumidor consciente ou do cidadão ambientalmente responsável é encarnado por uma pessoa, mas é apenas mais um estilo de vida, que como qualquer produto cultural, é propagado por uma indústria que explora esse segmento de mercado. A cultura incentiva uma mudança social útil e necessária ao atual estágio civilizatório: substitui o pouco que resta dos valores humanos por direitos e deveres do consumidor. Propaga uma ética da eficiência, que ignora o que é fazer o bem, e se concentra em consumir bem. Transforma toda sabedoria ancestral em sabedoria para consumir bem, que é confundido com viver bem. Atribui-se uma responsabilidade meramente nominal a um sujeito que não recebeu condições para ser responsável. Pede-se que ele crie uma consciência que na prática é rejeitada pela cultura. Provoca uma retro-alimentação de sentimentos de culpa, sem qualquer possibilidade de correção.

Nós não conseguimos distinguir quando estamos sendo o agente ou o paciente da devastação da natureza. Uma imagem usada por Ítalo Calvino descreve essa situação: “O exército dos helenos que serpenteia entre os entre os desfiladeiros das montanhas e os vaus, entre contínuas emboscadas e saques, não mais distinguindo onde passa de vítima a opressor, circundando também na frieza dos massacres pela suprema hostilidade da indiferença e do acaso, inspira uma angústia simbólica que talvez só nós possamos entender”[3]. Nesta situação, tanto faz avançar ou desistir, ambas as escolhas não oferecem qualquer sentido para além do presente.

O consumo se tornou entretenimento, assim como a própria crítica ao consumismo. Mas o consumo ainda sustenta a economia, que se tornou dependente do espetáculo. Quando se reduz o crédito se diminui o consumo, e isso gera crise. Para evitar o colapso, é preciso injetar dinheiro como se fosse uma droga estimulante. Eles irão emprestar dinheiro para que você gaste o que não tem naquilo que não precisa, porque sem aumentar as suas dívidas não há desenvolvimento econômico, e sem isso não há investimento, e sem investimento não há lucro, e sem lucro a competitividade diminui e empresas tendem a falir, levando embora o seu emprego e sua possibilidade de consumo. A cultura apresenta aquele que não consome como avarento, e o que consome como um ser superior (um Net, um Ligador, etc…) reforçando assim uma representação que tem o objetivo de gerar coerção social.


Consumose é uma doença contagiosa

Deveríamos considerar seriamente o impacto psicossocial do ato aparentemente inocente de levar uma criança às compras, ao shopping ou ao supermercado. Lá ela estará exposta a um ambiente repleto de agentes simbólicos infecciosos, e sem proteção alguma ela será um alvo fácil. De fato, ela é o alvo mais visado pelas campanhas publicitárias, porque sua resistência à indução de desejos de consumo é muito baixa. É comum ver pais brigando com seus filhos enquanto estes berram e esperneiam por causa de um produto, como se não valesse a pena viver sem poder consumir aquele produto. Esta é exatamente a ideia que foi introduzida nas mentes deles por meio da propaganda. Os publicitários montam um esquema astucioso para diminuir nossa capacidade de pensar, ainda que eles mesmos não percebam que fazem isso. Nós não deveríamos expor crianças a um ambiente que as adoece, mas sendo isso quase inevitável, devemos pelo menos prepará-las para isso. Elas não são culpadas por sentirem esse desejo avassalador de consumir, pois esse ambiente foi criado para gerar esse comportamento obsessivo. Nós adultos só nos comportamos melhor porque já nos acostumamos, pelo excesso de exposição ao agente infeccioso. Este tipo de ambiente produz desorientação. Ao pisar numa loja já estamos consumindo valores.

O ambiente de um grande supermercado ou shopping é construído para atingir os pontos fracos da psicologia humana. A cultura consumista fica o tempo todo sussurrando nos nossos ouvidos a crença de que você é o que você compra. Aceitando essa crença, o consumo adquire um significado existencial. Uma pessoa pode passar a literalmente viver para e pelo consumo, perdendo aos poucos as características morais que a tornam humana.

Você é o produto

Pouca atenção tem sido dada para a saúde psicológica das pessoas em relação ao consumo. Um dos “sonhos de consumo” das pessoas é se tornar um modelo de consumo para os outros. É isso que o marketing pessoal sugere: venda-se. As pessoas precisam querer ser você. Mas o efeito de ser um produto é extremamente deturpador. Uma análise das biografias de pessoas que tiveram essa experiência é suficiente para revelar isso. Ainda assim, pouca atenção é dispensada para o vetor de propagação dessa doença: as personalidades famosas. A vida para o consumo, ou a vida para ser consumido, é considerada boa por causa da abundância de consumo, como se nada pudesse ser pior do que não poder consumir.



As pessoas submetidas a uma rotina de estrela estão perdendo suas características humanas, porque se tornam produtos. Os seres humanos não foram feitos para a fama. Temos que pensar nos danos que estão sendo provocados a todos que estão e anseiam estar sob as luz dos holofotes e flashs da câmera. Não para tentar obrigar as pessoas a se afastar dessas coisas, o que de todo modo seria impossível, mas para não perpetuar um discurso que naturaliza essas coisas, que não dá discernimento sobre a gravidade das doenças que nascem nesse meio. Repensemos sobre o suporte que damos, e o modo como esperamos ansiosos para poder consumir pessoas. Consumimos a beleza de pessoas que são modelos de beleza, e nesse processo rejeitamos a nós mesmos.


Produzir para consumir para produzir para consumir…

Embora o trabalho seja visto como algo que dignifica o homem, a maior parte do trabalho visa cobrir gastos fúteis, sejam seus ou do seu empregador, e não a subsistência do homem. O que significa que a maior parte do trabalho dignifica apenas a insensatez humana, pois é a parte que alimenta o consumismo.


O consumo invade todos os aspectos da sociedade. Nós passamos a consumir pessoas ao invés de nos relacionar com elas. Consumimos idéias ao invés de aprender. Nós nos aproximamos dos outros e demonstramos nosso amor por meio do consumo. Nossa memória é significada pelos produtos que consumimos. Enfim, todas as relações passam a ser mediadas pelo consumo. A produção e o consumo passam a dar sentido às práticas e representações sociais. O consumo passa a ser uma necessidade simbólica que dá coesão e ordenação social. Ainda que se tente naturalizar o consumo dizendo que sempre consumimos, o consumo nunca teve o significado que está adquirindo agora.

Mas o aumento do consumo não deve ser encarado como um problema que pode ser resolvido pelo consumo ecologicamente correto. Substituir um tipo de consumo por outro mais moderado não será suficiente. A ecologia continua sendo uma perspectiva ajustada a uma cultura que defende a crença, expressa por Benjamin Friedman, de que o crescimento econômico é necessário para manter a paz social. Se os ricos param de crescer, o sistema reage automaticamente, e os pobres estão na parte mais vulnerável da zona de impacto. É uma armadilha muito engenhosa. O sistema é construído para depender da aceleração do fluxo. Por isso alguns capitalistas defendem seu próprio crescimento como possibilidade de gerar emprego e investir no crescimento do país como um todo. Se nós paramos de circular dinheiro cada vez mais rápido, a situação poderá ficar pior. Quando você corre montanha abaixo criando avalanches, parar de correr deixa de ser uma opção segura. Ou você se torna parte da avalanche, ou é soterrado por ela. Decrescimento só é uma opção enquanto puder dinamizar ainda mais os negócios. Só vale a pena se ainda tiver algo a ser ganho. Nessa sociedade, é meio difícil fazer alguma coisa funcionar fora da perspectiva da vantagem pessoal. E, no entanto, é somente fora dessa perspectiva que podemos resolver o problema do consumismo.

A demanda por ecologia cresce junto com seu consumo

A “civilização do ter” parece querer gerar a “civilização do ser” a partir de si mesma, isto é, tratando o ser como uma regulação do ter. Mostrar o quanto você é ecologicamente correto se tornou algo necessário à sobrevivência da sua imagem social. A ecologia se uniu ao desenvolvimento pessoal. A mudança é quanto à base da economia. Agora falamos de energia, ao invés de falar apenas de matéria. As coisas mudam para continuar iguais.

Pode ser que nesse caminho cheguemos ao trans-humanismo, uma transição das limitações do humano para o pós-humano, nem sempre no sentido biotecnológico. Se isto ocorrer, entraremos numa nova era ecológica, mas também numa nova era de degradação da natureza. Dessa vez, o alvo será a natureza da vida no seu sentido mais profundo. Fechamos uma porta e abrimos outra. Em nome da eficiência, o homem pode colocar em risco aquilo que tem de mais precioso.

A conclusão é que o problema do nosso modelo de produção e consumo não é que vivemos num planeta finito, mas que este modelo é alimentado por disposições mentais inerentemente insustentáveis. O planeta poderia ter recursos infinitos, e o mesmo problema surgiria: o crescimento da produção levaria ao consumismo, que por sua vez reduziria a vida ao consumo. Este modelo ameaça a vida com seu sucesso ou com seu fracasso. De certa forma, reconhecer que o planeta é finito pode ser muito útil para impedir que a força cega do mercado se destrua rápido demais pelo excesso de crescimento desgovernado. Mas essa consciência por si só não muda nossa disposição mental, apenas nos força a mudar os modos de apropriação para que o processo continue. Racionar os recursos não é o mesmo que sustentabilidade.

É muito fácil dizer que precisamos de uma nova cultura. Mas quando a cultura se torna um produto, e a mudança ocorre por meio de uma produção em massa de novas mentes, então a civilização venceu. Seria preciso mudar aquilo que produz a cultura em primeiro lugar. E voltaríamos ao mesmo problema. Essas coisas não se mudam sozinhas, e dizer que a educação tem que mudar é no fundo dizer que não temos a menor idéia de como mudar. A solução não pode ser simplesmente educar melhor. Educar em que sentido, se os professores também estão inseridos no processo? Quem vai educar os educadores? Não nos é apresentado nenhum meio viável para essa mudança quando tudo que se diz é: “Temos que preservar o meio-ambiente”. Se o problema é encontrar um modo ecológico de ganhar todo o dinheiro que é ganho com a devastação da natureza, então se trata apenas de uma questão de substituir os recursos de modo a preservar o sistema econômico, e se possível o ecossistema. O problema central não deveria ser educar para preservação do meio ambiente enquanto fonte de recursos que alimentam a civilização, mas sim a preservação da natureza no seu sentido original. A degradação a partir da ação humana não poderia acontecer sem a degradação do homem e sem a degradação do conceito de natureza. Não é com base na economia que poderemos restaurar isso.

Não se trata de afirmar simplesmente que “temos que nos tornar a mudança que queremos ver no mundo”, mas que temos que perceber que o modo como o mundo está mudando está afetando o modo como nós estamos mudando. O que, especificamente, eu deveria me tornar e que mudança eu quero ver no mundo? Aparentemente, continuamos consumindo diversas visões de mundo que não encontram um consenso sobre o problema humano. Elas podem ser coerentes com uma cultura que observa o problema do ponto de vista biológico, econômico, político, material ou pragmático, mas quando se fala de ser humano, o foco fica restrito às condições materiais para a manutenção da civilização. Se esse foco não mudar, não iremos muito longe.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sem alternativa, comunidade usa agua contaminada no interior do Ceara.


Incolor, inodora, insípida. Assim é a água que a comunidade de Tomé, no alto da Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte (a 198 km de Fortaleza), recebe nas torneiras de todas as suas casas. Contudo, ao analisar 46 amostras dessa água retiradas de diferentes pontos de distribuição, um estudo da Faculdade de Medicina da UFC (Universidade Federal do Ceará) constatou que em todas há resquícios de diferentes tipos de defensivos agrícolas, o que faz dessa água uma ameaça à saúde de todos que a ingerem.

Supostamente por denunciar esse fato, o líder comunitário José Maria Filho, conhecido como Zé Maria do Tomé, foi morto com 19 tiros em abril do ano passado, crime até hoje impune. E agora, o Ministério Público do Estado do Ceará ingressou na Justiça uma ação civil pública para pedir a suspensão imediata da entrega dessa água aos moradores do local e sua substituição por água potável, própria para o consumo, nem que seja por carros-pipa.

A água, distribuída pelo SAAE (Sistema Autônomo de Água e Esgoto) de Limoeiro do Norte, é retirada de canais do projeto de irrigação Jaguaribe-Apodi, do Dnocs (Departamento Nacional de Obras contra as Secas). Nesse projeto, estão instaladas empresas nacionais e multinacionais que produzem frutas e grãos e que pulverizam agrotóxicos nas plantações, tanto com o auxílio de tratores como de aviões. Da mesma forma que atingem as lavouras, esses defensivos caem na água, que corre a céu aberto entre os lotes irrigados, até chegar nas casas das famílias de Tomé.

A água é cobrada regularmente pelo SAAE. “Em síntese, o SAAE de Limoeiro do Norte cobra pelo serviço de fornecimento de água, o qual vem prestando de forma absolutamente ineficiente, pois fornece água imprópria ao consumo humano aos consumidores residentes na comunidade do Tomé”, diz a ação civil pública assinada pela promotora Bianca Leal Mello da Silva Sampaio.

A permissão para o uso da água é dada pela Fapija (Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi), que, em troca, recebe do SAAE o equivalente aos custos da energia elétrica do projeto de irrigação, cerca de R$ 350 mil por mês. Apesar de fornecer a água, o próprio presidente da Fapija, Raimundo César dos Santos, não garante que ela é potável. “Essa é uma água de uso exclusivo para irrigação. A gente não se responsabiliza por ela”, afirmou, minimizando, em seguida, o tom de alerta da própria fala. “Fizemos um estudo de R$ 1.500 nessa água e não encontramos nada de errado. E lá está disponível para qualquer cidadão atestar isso também.”

Em frente a um das piscinas do projeto que funcionam como reservatório, porém, a própria entidade mandou instalar placas com os seguintes dizeres: “Atenção, água não potável” e “Atenção, proibido banho e pesca”.

Santos justifica a permissão para o uso da água para abastecimento humano como uma forma de viabilizar o uso da energia elétrica para o bombeamento para irrigação. “Estamos no alto da Chapada do Apodi, a 110 metros de altitude, e toda a água que passa pelos 40 quilômetros de canais precisa ser bombeada o tempo todo. São 4.800 metros cúbicos de água por hora e sete bombas. Se não for assim, não dá para ter plantação de nada”, afirmou.

Danos à saúde

O estudo do grupo Tramas, da Faculdade de Medicina da UFC, constatou a presença de 22 princípios ativos de agrotóxicos na água consumida pela comunidade de Tomé, assim como em outras quatro localizadades. Entre os defensivos há inseticidas, fungicidas, herbicidas e acaricidas. Eles são usados, segundo o geógrafo Diego Gadelha, do curso de Saneamento Ambiental do IFCE (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará), especialmente para combater uma praga das plantações de banana, a sigatoka-amarela, um fungo que aparece nos bananais em períodos chuvosos, por causa da umidade.

Quando há pulverização aérea, o veneno não atinge só a água. As casas dos moradores da região também são afetadas, além dos próprios moradores. A pulverização com trator também não evita estragos. “Há um estudo da Cogerh (Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará) que mostra que água subterrânea, de poços, também está contaminada. Com isso, os animais, os alimentos, as pessoas, tudo está sendo atingido. E os danos vão aparecer principalmente a longo prazo, já que o veneno fica se acumulando no organismo”, disse.

Para alguns que trabalham na agricultura, os sintomas, porém, já são visíveis. Pelo menos 17 pessoas na comunidade tiveram câncer, doença que pode estar relacionada à exposição prolongada aos agrotóxicos. Outros apresentaram doenças como dermatites, desregulação hormonal, dificuldades respiratórias e insuficiência do fígado e dos rins. Um agricultor de 29 anos morreu por uma doença crônica no fígado. Em todos esses casos, percebeu-se a influência de substâncias usadas nos defensivos agrícolas.

Depois da morte de Zé Maria com 19 tiros, bem na época em que foi divulgado o estudo da UFC comprovando a existência de agrotóxicos na água entregue no Tomé, a população dali – cerca de 2.000 pessoas - ficou assustada. Ainda assim, todo dia 21, data em que o líder da comunidade foi morto, acontece uma manifestação na região.

A constatação de que a água está imprópria para o consumo humano, porém, não fez com que a maioria parasse de usá-la. “Há uns três meses, a prefeitura começou a mandar água em carros-pipa para abastecer caixas d'água da localidade. Só que, aos poucos, como não é nada simples sair de casa com o balde para buscar água, as pessoas voltaram a usar a da torneira. E a própria prefeitura, há um mês, deixou de abastecer de novo os reservatórios com água potável”, disse o geógrafo Gadelha. “Como os problemas não surgem do dia para a noite, todos vão usando”, completou.

Para o presidente do SAAE, Antônio Mauro da Costa, as pessoas querem a água ali, e não há agora outra forma de levar se não retirando do projeto de irrigação. A única alternativa seria a construção de uma adutora, no valor de R$ 7,5 milhões, dinheiro que ainda não tem previsão de ser conseguido. Costa afirma que também tem estudos que mostram que a água é boa para o consumo, apesar de a Fapija ter instalado placas informando que ali a água não é potável.

“Se ali a água é contaminada, a do rio Jaguaribe também é, e a dos outros afluentes e de toda região do Vale do Jaguaribe também são, porque aqui existe a maior empresa a céu aberto do Nordeste, onde mais de 10 mil pessoas são empregadas. E a luta é para se aumentar a área irrigada. Se não puder mais usar os defensivos, tudo isso vai acabar”, disse Costa.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Governo afrouxa regras ambientais para acelerar obras.

Um pacote de decretos promoverá o que vem sendo entendido no governo como "choque de gestão" na área de licenciamento ambiental, com regras mais simples e redução de prazos e custos. Os decretos vão fixar novas normas por setores, e os primeiros a passarem por reforma serão petróleo, rodovias, portos e linhas de transmissão de energia.

A reportagem é de Marta Salomon e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 18-02-2011.

Em algumas obras, como o asfaltamento de rodovias, não serão mais exigidas licenças, mas uma simples autorização do órgão ambiental. Essa regra não atinge, porém, rodovias na Amazônia, como a polêmica BR-319, localizada numa área bastante preservada da floresta.

Listada entre as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a rodovia enfrenta resistências na área ambiental pelo risco de aumentar o desmatamento na Amazônia. Sinais de aumento do ritmo das motosserras nas proximidades da BR-317 reforçam essas resistências.

Além de acelerar a liberação de licenças com regras mais claras e menos burocracia, o pacote de decretos deverá reduzir o custo de exigências do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O custo médio dessas exigências, que incluem até a urbanização e a instalação de saneamento de cidades, é estimado entre 8% e 10% do preço total dos empreendimentos. Em alguns casos, supera 15%.

Atrasos

A área ambiental é alvo de críticas no governo por supostamente impor atrasos nos cronogramas de empreendimentos. Mudanças nas regras vêm sendo negociadas desde o fim do governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas a edição dos decretos pela presidente Dilma Rousseff é prevista apenas para depois do carnaval.

O licenciamento de hidrelétricas não passará por mudanças neste momento. Essa é uma das áreas mais complicadas na agenda do governo Dilma Rousseff.

O Plano Decenal de Energia prevê a construção de cinco grandes usinas em áreas de conservação ambiental no Pará. As hidrelétricas do Complexo Tapajós, com potência estimada em 10,5 mil MW (megawatts), quase uma Belo Monte, deverão alagar uma área de 1.980 km², 30% maior que a cidade de São Paulo.

Um dos decretos cujo texto já foi aprovado pelo Planalto acelera o licenciamento de linhas de transmissão de energia. O objetivo é impedir que a energia a ser gerada pela hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira (RO), por exemplo, não possa ser distribuída por atraso no licenciamento da linha de transmissão.

Na área de petróleo, o número de licenças - que hoje pode chegar a 12 para cada projeto - será reduzido. A intenção é facilitar a exploração do pré-sal, sem abrir mão de critérios de segurança dos empreendimentos, proporcionais ao impacto ambiental dos projetos.

No fim vale a celebre frase: "Brasil, ame-o ou deixe-o"

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Dispensa da licença ambiental no estado do Ceara. Equivoco, imcompetência ou interesses pessoais do Gov. Cid Gomes?


Nesse mês de janeiro o estado do Ceará foi palco de uma verdadeira batalha política, envolvendo de um lado o já esfacelado e fraco meio ambiente do estado contra as mãos de ferro do progressos e dos grandes grupos imobiliários viciados em lucro a qualquer custo.

O governador Cid Gomes tentou aprovar projeto de lei que retirava a obrigatoriedade de licença ambiental emitida pela Semace em algumas obras do Governo do estado, ou consideradas "estratégicas" para o governo. Obviamente os critérios dessa análise do que é ou não estratégico envolve diretamente e somente os interesses econômicos.Entre os antagonistas do projeto de lei o mesmo ficou popularmente conhecido como #AI5Ambiental.

Após inúmeras discussões o projeto de lei sofreu a primeira derrota na Assembléia Legislativa, houve dois recuos importantes: o primeiro foi o fim da dispensa de licenciamento e o fim do licenciamento de obras estratégicas do governo.

“Em carta enviada ao governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), a superintendente estadual do Meio Ambiente (Semace), Lúcia Teixeira, apontou a existência de uma “evidente discordância” entre sua forma de trabalho e o pensamento de Cid Gomes.

Esse fato, segundo escreveu Lúcia, “desaconselhou” sua permanência no comando geral do órgão responsável pelos licenciamentos ambientais no Ceará. Apesar da cortesia formal no texto enviado a Cid, Lúcia usa tom de firmeza ao falar do desejo de exoneração. “Ocorre que mudanças e fatos recentes me levaram a uma profunda reflexão, da qual emergi com a certeza de que há uma evidente discordância de vossa excelência (o governador Cid Gomes) com o meu modo de trabalhar”, escreveu Lúcia, sem adicionar detalhes. Lúcia ficou no cargo até 27 jan. 2011.

A carta, foi a segunda escrita por Lúcia para Cid no mês de janeiro. Na primeira, enviada no dia 14 de janeiro, Lúcia já pedia exoneração.

A assessoria de imprensa da Semace informou que Lúcia Teixeira não fez referencias a Operação Marambaia ao falar com os servidores sobre sua saída. Essa informação foi publicada na última segunda no blog Eliomar de Lima. A assessoria também informou que Lúcia Teixeira não falará com a imprensa sobre o caso.”

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Seminário Internacional na ONU de Agroecologia


Uma boa notícia para o "campo da Agroecologia"

A ONU realizará, dias 21 e 22 de junho, em Bruxelas, um Seminário Internacional com o tema/título: "As contribuições do enfoque agroecológico para satisfaser as necessidades alimentares mundiais em 2050."

O objetivo do evento é "fazer um balanço do potencial do enfoque agroecológico para enfrentar o desafio mundial de segurança alimentar no contexto da atual de crise ecológica, econômica e climática..." .

A pergunta básica, orientadora para o evento, é: como ampliar este modelo de desenvolvimento rural/agrícola ? É importante destacar que o documento de convocação do seminário reafirma a necesidade urgente de conversão da agricultura convencional para agriculturas baseadas na Agroecologia e diz que a questão já não é quando, mas como? Além dos convocantes do evento, coordenado por Oliver De Schutter (Relator Especial sobre Direito à Alimentação da ONU), estão convidados 25 profissionais da área, de vários países, além de 3 representantes da Via Campesina - da Ásia, América Latina e África. Do Brasil estão convidados Claudia Schmitt - CPDA-UFRRJ e Francisco R. Caporal (MDA-SAF-Dater).

O reconhecimento da Agroecologia como uma ciência capaz de contribuir para a superação das crises ambiental, climática, de alimento, econômica e social, constitui-se num passo importante para a construção de políticas públicas concretas que impulsioneM a transição da agricultura agroquímica insustentável e responsável pelas crises atuais na direção de agriculturas de base ecológica, com estabilidade de produção e produtividade, mais resiliência frente aos impactos do cambio climático e capaz de gerar ocupações no meio rural com a produção de alimentos sadios.

Mais informações: www.srfood.org

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Xingu do século 21 ameaçado

Artigo de Cao Hamburguer


Se nossos dirigentes tivessem interesse em entender a cultura dos indígenas, abortariam qualquer projeto que os ameaçasse, como Belo Monte

[Folha de S.Paulo] Em 2011, o Parque Indígena do Xingu está fazendo 50 anos. Algo profundo mudou na minha percepção de mundo enquanto conhecia o parque e sua história durante a produção do filme “Xingu”.

Sem dúvida, é um dos maiores patrimônios do Brasil -e nós, brasileiros, não temos a menor ideia do que ele representa e do que está protegido ali. Criado em 1961, é a primeira reserva de grandes proporções no Brasil.

Abriga povos de cultura riquíssima e filosofia milenar, que vivem em equilíbrio, preservando seu modo de vida, sua dignidade, sua cultura e vasta sabedoria, assimilando só o que vale a pena do “mundo de fora”, sempre em sintonia com a natureza exuberante. Um verdadeiro santuário social, ambiental e histórico no coração do Brasil.

Mas não estamos falando só de preservação do passado e da natureza. O que está sendo protegido ali é o futuro. Não o futuro visto com os óculos velhos, sujos e antiquados que enxergam o progresso da mesma maneira como enxergavam nossos bisavós na Revolução Industrial, mas o futuro do século 21.

Esse talvez seja o maior patrimônio do Brasil hoje. Mais valioso que todo o petróleo, soja, carne, ferro que tiramos do nosso solo, ou todo automóvel, motocicleta, geladeira que fabricamos.

O que está protegido ali é um novo paradigma de como o ser humano pode e deve viver. Não estou dizendo que precisamos morar em ocas, dormir em redes, tomar banho no rio e andar nus. Falo de algo mais profundo.

Algo novo para nós, ditos civilizados, que nascemos e fomos criados como os donos do planeta. Arrogantes e prepotentes, nos transformamos no maior agente destruidor do nosso próprio habitat.

Um exército furioso de destruição. Um vírus que se multiplica e ataca, transformando e destruindo tudo o que encontra em seu caminho na presunção de que estamos construindo um mundo melhor, mais seguro, mais confortável, mais rentável. No Xingu, progresso tem outro significado.

No Xingu, homens e mulheres não vivem como donos do mundo, não foram criados com essa arrogância. Vivem como parte da cadeia de vida do planeta, e essa cadeia é interligada e interdependente. O “progresso” e o bem-estar dos homens está ligado ao equilíbrio dessa cadeia. Para os índios, homem e natureza evoluem juntos.

Golpe baixo.
Mas a megausina de Belo Monte quer represar o rio Xingu. O rio que é a alma e a base da vida das comunidades indígenas da região.

Um golpe baixo, em nome do progresso. Progresso com os velhos parâmetros dos séculos 19 e 20, que tem levado o mundo ao colapso social e ambiental.

É isso que queremos?

Se nossos dirigentes e a sociedade como um todo se interessassem em entender a filosofia, a cultura e a inteligência dos povos indígenas, abortariam qualquer projeto que os ameaçasse. E poderíamos inaugurar novo paradigma de progresso.

O progresso do equilíbrio. Seríamos a vanguarda mundial do século 21. Essa é a demanda. Essa é nossa chance. Sejamos corajosos, ousados, visionários. Como foram os que lutaram pela criação do Parque do Xingu há 50 anos.


CARLOS IMPÉRIO HAMBURGER, 48, é diretor de cinema e televisão. Atualmente finaliza o filme “Xingu”, sobre a criação do Parque Indígena do Xingu.

Artigo originalmente publicado na Folha de S.Paulo.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Jovens que comem o que assistem: Publicidade de alimento para criança contribui para obesidade infantil

Maioria das empresas do setor não tem políticas definidas, diz especialista. Merchandising em filmes é fonte de publicidade que tem sido ignorada.


Muitos fatores influenciam as escolhas alimentares das crianças: onde elas comem, o que os amigos e irmãos comem, o que os pais comem, bebem e trazem para casa, o que é servido na escola e, é claro, o que elas gostam.

Mas, se você é pai ou mãe, gostaria que as escolhas alimentares de seu filho fossem determinadas por empresas produtoras cujo primeiro objetivo é lucrar? A questão é de especial importância agora que os índices de obesidade infantil estão aumentando (o que também é resultado de interesses comerciais). Reportagem de Jane E. Brody, do New York Times.

No mês passado, o Center for Science in the Public Interest, grupo baseado em Washington, deu uma nota de 95 a 128 a empresas de alimentos e entretenimento por suas políticas – ou falta de políticas – em relação à comercialização para crianças.

Isso apesar de a Iniciativa de Publicidade de Alimentos e Bebidas para Crianças ter anunciado que não comercializaria alimentos para crianças abaixo dos 12 anos se esses produtos não alcançassem os padrões nutricionais próprios das empresas. A Iniciativa foi patrocinada pelo Better Business Bureau, grupo com 16 grandes empresas de alimentos e redes de lanchonetes, representando cerca de 80% dos gastos com publicidade de alimentos na televisão americana.

Infelizmente, esse, justamente, é o problema. O que uma empresa como a Kellogg’s considera uma quantidade aceitável de açúcar numa porção de cereal matinal pode não ser o que um pai ou mãe com conhecimentos nutricionais escolheriam. O limite adotado pela Kellogg’s é 12 gramas (3 colheres de sopa de açúcar), o que os impediria de promover o Cocoa Krispies (14 gramas de açúcar numa porção de uma xícara) para as crianças. Mas o Frosted Flakes, com 11 gramas, ainda poderia ser divulgado em locais onde crianças de 6 anos ou mais pudessem ver a publicidade (a empresa ainda não tem como alvo crianças abaixo de 6 anos).

Além disso, como cada empresa estabelece suas próprias diretrizes, o que se aplica à Kellogg’s pode não se aplicar a produtos feitos pela General Mills ou Post.

“Apesar do sistema autorregulatório da indústria, a grande maioria das empresas de alimentos e entretenimento não criou mecanismos de proteção para crianças”, diz Margo Wootan, diretora de política de nutrição do centro. Na análise do marketing direcionado a crianças, divulgada no último mês de novembro, a maior nota, B+, foi para a produtora de doces Mars, que não comercializa para crianças abaixo de 12 anos e evita peças publicitárias para atraí-las.

“Se as empresas estivessem vendendo banana ou brócolis, não estaríamos preocupados”, diz Margo. “Mas, em vez disso, a maioria vende cereais açucarados, fast food, lanches e doces. E esse mercado de junk food contribui bastante para a obesidade infantil.”

Além disso, como mostrou a análise, embora 64% das empresas de alimentos que fazem publicidade direcionada a crianças tenham pelo menos algum tipo de política de marketing, apenas 24% das lanchonetes e 22% das empresas de entretenimento mantêm qualquer política orientando a publicidade para crianças.

Num estudo divulgado em março de 2007, a Henry J. Kaiser Family Foundation observou que crianças entre 2 e 7 anos de idade veem uma média de 12 anúncios de comida na televisão por dia, ou 4.400 por ano. Crianças entre 8 e 12 anos veem uma média de 21 por dia – mais de 7.600 por ano. Para adolescentes, os números são 17 por dia, ou mais de 6 mil por ano. Metade de todo o tempo de publicidade nos programas de televisão voltados para crianças é dedicado a comidas, relatou a fundação.


“A maioria dos anúncios de comida que as crianças e os adolescentes veem na TV são alimentos que os nutricionistas, grupos de monitoramento e órgãos do governo sustentam que devem ser consumidos ou em moderação, ou ocasionalmente ou em pequenas porções”, afirma o grupo. “Dos 8.885 anúncios de comida analisados no estudo, não houve publicidade de frutas ou vegetais mirando crianças ou adolescentes”.

Caso você esteja se perguntando, vários estudos demonstraram que anúncios de televisão realmente têm um efeito – não um efeito bom – sobre o que as crianças comem, e quanto comem. Num estudo com 548 alunos de cinco escolas públicas próximas de Boston, publicado em 2006 pelo The Archives of Pediatric and Adolescent Medicine, pesquisadores descobriram que, para cada hora adicional de televisão, as crianças consumiam um adicional de 167 calorias, especialmente alimentos altamente calóricos e pobres em nutrientes, frequentemente anunciados na TV.

Filmes
Agora, como sugere um novo estudo, é hora de prestar atenção a promoções sutis de alimentos e bebidas que aparecem em filmes populares entre crianças e adolescentes. Os filmes, afirmam os autores, são “uma fonte potente” de publicidade para crianças, que tem sido “amplamente ignorada”.

O estudo, publicado em março na revista “Pediatrics”, analisou o posicionamento de marcas de alimentos, bebidas e lanchonetes retratados nos 20 maiores sucessos de bilheteria em cada ano, de 1996 a 2005. Dos 138 filmes analisados, 49% eram classificados para 13 anos, 25% pediam acompanhamento dos pais e 7,5% eram livres.

“Descobrimos que uma proporção surpreendente dos filmes direcionados a crianças e adolescentes continha publicidade de marcas”, escreveram os autores. Embora a Coca-Cola e a Pepsi tenham compromisso de não anunciar seus produtos em programas de TV para crianças, os pesquisadores descobriram que “produtos de bebidas com açúcar dessas empresas apareceram regularmente em filmes, especialmente aqueles indicados para crianças e adolescentes”.

Das 1.180 inserções de marca identificadas, 26% foram para doces e similares e 21% para lanches salgados; 76% das bebidas tinham adição de açúcar e dois terços dos restaurantes eram de fast food. Os pesquisadores descobriram que “refrigerantes, batatas e marcas de fast food dominam os filmes com classificação até 13 anos”.

Os autores, liderados por Lisa Sutherland, do Dartmouth Medical Center, descobriram uma média de 8,6 inserções de marca por filme, e concluíram que a maioria era de “linhas de produtos de alimentos altamente energéticos e pobres em nutrientes”.

Para que você não duvide que isso influencia os hábitos alimentares dos jovens, a aparição do chocolate Reese’s Pieces no filme “ET” resultou num aumento acentuado nas vendas do produto, três meses depois do lançamento do filme, em 1982.

“A inserção de produtos em filmes está em pé de igualdade com a publicidade subliminar, embora tenha sido amplamente ignorada por aqueles que estudam o impacto do marketing nas crianças”, afirmaram os autores.

Os pesquisadores expressaram uma preocupação especial em relação à influência de inserções de marca em filmes com classificação até 13 anos em crianças mais velhas e adolescentes, “que estão ganhando independência em relação a suas escolhas alimentares”. Eles observaram que isso “fornece uma avenida pela qual a lealdade de marcas e a preferência pelos produtos podem ser construídas”.

O que você pode fazer? Não sugiro evitar um filme maravilhoso como “ET”. Mas assim como pais e outros responsáveis se opuseram à venda de bebidas com alto teor de açúcar em escolas e, com um efeito menor até agora, à publicidade de alimentos para crianças, pode ser hora de expressar seus sentimentos para produtores de filmes sobre como as inserções de marca estão prejudicando a saúde e aumentando o peso das crianças americanas.

Tradução de Gabriela d’Ávila

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