segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um dia mágico no sertão

Por: Drica Oliveira

Aterrizamos em mais uma terra distante. Chegamos já com a lua alta e atravessamos o portal de entrada com a permissão de seu Maninho. Ainda pela noite, logo em seguida a nossa chegada, houve uma roda para apresentações e planejamento das ações do dia de trabalho a seguir. Estavam ali reunidos grupos de ações permaculturais como Neppsa, Maloca, INEC e voluntários diversos. Éramos um grupo de umas 20 pessoas. Fui dormir cansada, já tarde da noite, mas muito feliz pela semana repleta de arte que havia passado em nossas vidas.


A rotina começou cedo: 6:30h já estava na cozinha preparando as frutas para o dejejum. Agradecemos e comemos com alegria, todos reunindo forças para um dia longo de diversos trabalhos permaculturais. Logo iniciamos nossa produção e ajudamos Dora, Juliana e Luciana a entrarem no clima colorido do cortejo. A sala de aula da escolinha transformou-se em camarim: adereços e figurinos espalharam-se com suas cores diversas por todo o espaço ajudando a ancorar o encantamento artístico. A palhaça Lála entrou em ação com seu infalível companheiro o palhaço Malabarista Maluco que ainda não havia descoberto nessa época seu verdadeiro nome. As crianças começaram a nos descobrir ainda dentro da sala e seus olhinhos brilhantes e bocas entreabertas nos deram um sinal do que viria a seguir...

Enfeitamos uma carroça com balões e seguimos cantando amor sertão a dentro. Nossas cores contrastavam na paisagem agreste da mata branca. “Surreal” percebia Juju. E no caminho do açude, dentro da mata abriu-se uma flor...




A chegada foi uma surpresa tão imprevisível que o choro assustado misturou-se a olhares curiosos. As crianças nos olhavam com espanto e interesse. Um misto de emoções próprio às experiencias novas que vivenciamos. Pouco a pouco fomos visitando o universo da comunidade do Sussuí. Em cada casa um sorriso: alguns bem abertos, outros muito tímidos, mas todos de uma simplicidade encantadora. Tínhamos a missão com esse cortejo de convidar os moradores para a apresentação do novo projeto na escola às 16h e sabíamos que com nossos malabares e roupas coloridas havíamos despertado a curiosidade geral.












Descansamos um pouco depois do almoço: haviam sido horas sob o forte sol do semi-árido. Quando despertamos olhos curiosos já nos espreitavam atrás da porta. Ensaiamos e ajustamos os últimos preparativos para a apresentação da esquete que havíamos montado com ajuda da nossa amiga clown Helena. Junior estava encarregado do som e Luciana estava sempre ao nosso apoio. Houve o círculo de mulheres e iríamos nos apresentar logo após a apresentação do projeto pelo professor Oriel. A adrenalina tomava conta dos nossos sentidos. Os morados chegavam em grupos, as crianças vestidas em suas melhores roupas mal continham a expectativa. Todos se acomodaram na pequena plateia improvisada com cadeiras e pufes de garrafas pet na varanda da escola.




Entramos em cena enquanto o sol ensaiava a sua despedida. Uma energia de alta frequência envolveu a todos na mesma vibração. Vibrávamos com as risadas do público atento e sabíamos que eles vibravam a cada movimento nosso. Foi mágico entrar em cena para aquelas pessoas. Saímos de cena com os corações transbordando dessa energia e fomos recebidos pelo sol alaranjado que ia se pondo no horizonte do sertão. Rafa e eu agradecemos unidos pela magia presente naquele momento.








Sem perder essa vibração nos preparamos rapidamente para o fogo que iria encerrar o dia. Foi justo naquele momento do anjo onde o céu ainda está aceso, mas as cores alaranjadas e róseas já deram lugar aos tons sombreados de azul, que entramos e giramos nosso fogo. Desenhamos mandalas no ar, raios de luz rastreando o céu azul, o calor do fogo aquecendo os corpos e o espaço. Ali houve transmutação. Ali o fogo foi apresentado com respeito, como um elemental e assim cumpriu sua missão encerrando o dia mágico no sertão.







(Um pequeno poema rabiscado ao fim do dia)

Sussuí encantada
Foi brilho e risada
Cores na mata branca
No ar riso de criança
E sol se escondendo atrás da gente
Energizando simplesmente
No coração daquelas crianças
Ficou um pouco de mim
No meu coração ficou um pouco de ti
Essa é a mais pura magia
Que pode existir na terra
Amor, amor, amor
De baixo de um céu estrelado
Olhava aquela cor
Os olhos cheios
Refletindo o espelho d'água
Jorrando luz d'alma
Gratidão brotando no coração
A lua vermelha nascendo
Imundando o sertão

Por: Drica Oliveira

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