quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

É cuidar que se ganha



Texto por Paulo Geraldo
http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo351.shtml




Os direitos das crianças, os direitos das mulheres, os direitos das minorias. Os meus direitos, os teus direitos, os nossos direitos, os direitos de todos. O direito ao bom nome, o direito à livre expressão, os direitos de autor. O direito de ter direitos. O estojo onde me sinto confortável, o teu ninho de comodidade... Não me incomodes e eu não te incomodo.
Faz o que quiseres desde que não me pises. E não te metas na minha vida... Mas a verdade é que não é possível fazer seja o que for com pessoas, tendo isto como fundamento. Aquilo que juntou os homens não foram os direitos. Os homens não fizeram aldeias, vilas e cidades para virem a ter direitos. Fizeram famílias porque amavam, e o amor conduz naturalmente à união. E as famílias juntaram-se a outras famílias para virem a ser uma família maior.

Para se protegerem uns aos outros. Para tornarem mutuamente mais agradável os anos passados no planeta. Porque é fantástico termos ao nosso lado muitas pessoas que nos ajudam a crescer e a quem podemos tornar felizes.

O problema agora é que os homens já não percebem por que vivem juntos. Prezaram um certo tipo de independência - que é uma maneira de serem sozinhos. Tendo esquecido por que razão se juntaram, estorvam-se uns aos outros. São rivais: nas filas de trânsito, no supermercado, no trabalho. Na família. Há muitos que se sentem incomodados simultaneamente pelo fato de terem pais e pelo fato de terem filhos...

Aquele que envelheceu e já não pode valer-se a si mesmo é um incomodo para o que ainda não envelheceu. Aquele que fuma é um estorvo para o que não fuma. E aquele que não fuma estorva o fumador. O que está doente incomoda aquele que ainda é saudável. O que quer ouvir música é um estorvo para o que prefere o silêncio.

Os homens vivem perto uns dos outros, mas são sós. É uma estranha vizinhança. Como já não amam, tentam prolongar a união - talvez por hábito, talvez por medo, talvez por interesses - sem aquilo que tinha sido a causa da união.

Mas o convívio motivado por motivos desse gênero não pode subsistir. Não tem consistência nem alma. Não consegue passar de aparência de convívio. Usaram-se direitos e leis para tentar manter aquilo que não pode ser mantido apenas dessa forma. Para permitir que vários egoísmos se desenvolvessem lado a lado.

Em muitos aspectos, a nossa sociedade ocidental faz lembrar um quase-cadáver mantido por uma máquina que lhe faz artificialmente a respiração. Que lhe mantém funções que ele já não é capaz de realizar por si mesmo. Falta muito pouco para que aquele corpo comece a desagregar-se, porque já não tem alma.

Só o amor pode manter aquilo que deve a existência ao amor. E o amor não tem nada a ver com direitos. Leva a não pensar em si mesmo, ao sacrifício saboroso pelo outro, a esquecer os próprios interesses. O amor pede apenas o direito de não ter direitos. Quer perder-se no outro, morrer dando vida, gastar-se iluminando e aquecendo. Troca-se de bom grado por um sorriso feliz de quem ama.

O amor faz pelo outro muito mais do que aquilo que as leis dos homens lhe dão direito a receber. Faz muito mais que a justiça. É uma lei maior, que não está gravada em papéis, mas nos corações. Não terás necessidade de pensar no que te faz falta, se viveres rodeado por pessoas que resolveram tornar-te feliz. Assim, terás mais facilidade para, pelo teu lado, pensares no bem dos outros.
Se tiveres à tua volta pessoas que só pensam em si mesmas e nos seus interesses egoístas, terás de erguer os teus direitos como uma muralha que te defenda. Mete-te na vida dos outros. E mete a vida dos outros na tua vida. É claro que devemos fazer isso, porque a vida deles é a nossa vida. Se as alegrias dos outros não forem as nossas grandes alegrias, nunca teremos verdadeiramente alegria. Se as dores dos outros não forem dores nossas, teremos dores muito piores.
Eu sei: tens medo de que não te retribuam; achas que se pensares nos outros eles não pensarão em ti; que poderás ficar diminuído por seres sempre tu a ceder... Mas quem foi que te disse que o amor era um negócio? Onde aprendeste que era uma atividade centrada em ti mesmo, destinada a dar-te satisfação?
O amor é um mau negócio: é, como escreveu Camões num soneto lindíssimo, «cuidar que se ganha em se perder». É uma loucura que leva a acreditar que enriquecemos quando nos damos; que só somos nós mesmos quando não queremos saber de nós.
E, descansa, nenhum outro comportamento é tão contagioso.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

II Festival Latino-Americano das Juventudes em Fortaleza

A Casa da Permacultura recebeu diversas intervenções

em seu espaço físico como espirais de ervas,

composteira e forno de barro,

graças à colaboração da turma do NEPPSA.


Seguem-se os dias, mudam os ventos e a vida traz a necessidade de recriar os dias. Em um momento de inspiração e coragem topei sair da minha concha protetora e participar do Festival da Juventude a convite da minha amiga malocultora Luciana Campos. O evento, promovido pela prefeitura, aconteceu de 08 a 11 de outubro e contou com a participação de aproximadamente 6.000 jovens de diversas localidades do Brasil e do mundo. A Associação Maloca esteve presente como colaboradora no projeto da Casa da Cultura Permanente que distribuiu durante todo o festival muita informação de qualidade sobre Permacultura, Meio-Ambiente e Sustentabilidade.


Tomé (NEPPSA) facilitando o Curso de Introdução à Permacultura

para a juventude atenta às questões ambientais.


Na Casa da Cultura Permanente circularam muitas personalidades que fazem acontecer a Permacultura aqui no Ceará, além de receber a todo momento visitas de pessoas interessadas em entrar em contato com o tema. Grupos como o NEPPSA, o IPC, a Cura do Planeta, o INEC e a Maloca articularam e circularam atividades durante todo o evento.


Espaço de convivência do fogo sagrado.

Ao fundo a alegria das Danças Circulares Sagradas facilitada por Márcia Thor.


A programação incluía cursos de introdução à permacultura, trilhas ecológicas na região da Sabiaguaba, artesanato com materiais reciclados, construção de forno solar, danças circulares sagradas, entre outras atividades. Minha missão foi dar vivências em Yoga diariamente, possibilitando aos participantes do evento entrarem em contato com essa sabedoria ancestral.


::Namasté::

"O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você".



A turma aceita o desafio das posturas invertidas.


As práticas aconteceram no final da tarde ao ar livre, no jardim da Casa da Cultura Permanente, em um clima bem descontraído. Para mim foi um prazer compartilhar um pouco da minha energia com aqueles jovens cheios de vitalidade.


A força interior do guerreiro para superar os obstáculos da vida.


Para a maioria era o primeiro contato com uma prática de Yoga! É lindo ver as pessoas entrando em contato com sua própria respiração e seu corpo de forma consciente. Entoamos mantras para a Mãe Terra e canalizamos energias de paz para todos os seres vivos. Foi uma bela troca. Em mim reverbera agora o sentimento de gratidão pelos dias de intensa partilha e coletividade. Que venham os bons ventos!



.:Namasté:.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Movimento Transition Towns – A transição continua…

No sábado do dia 02 de julho, aconteceu o 3o encontro do grupo iniciador do movimento Transition Towns (Cidades em Transição) em Fortaleza. A reunião aconteceu na praia da Abreulândia, que fica próxima ao bairro da Sabiaguaba. Após o curso realizado em maio desse ano, na ONG Cura do Planeta, um grupo grande de interessados em fazer acontecer o movimento vem se reunindo para realizar vivências junto às comunidades e discutir os próximos passos rumo à transiçao.

A primeira reunião aconteceu em 04 de junho de 2011, às vésperas do Dia Nacional do Meio Ambiente, aliando-se a programação proposta pelo Grupo de Consumidores Responsáveis do Benfica. Após uma conversa fluida e produtiva na casa do Zé Albano, seguiram-se atividades envolvendo o plantio de nativas de manguezal – com direito até a banho com argila terapêutica -, construção de canteiros na comunidade, e fechando no “Cine Duna”, com a mostra do filme “O Homem que Plantava Árvores”, exibido nas dunas da Sabiaguaba, no cair da tarde. Segundo João Lucas Castanha, “o melhor cinema da cidade”. E assim se deu o pontapé inicial da transição.


O segundo encontro realizou-se na tarde do dia 11/06, na Gereberaba, mais precisamente no terreiro da Dona Maria e Seu Valdemar, onde foi feito um belo trabalho com a comunidade, com oficinas de transformação de lixo em arte, e com o plantio e tratamento de mudas.

Assim, crianças viram garrafas pet virarem lindas borboletas, peixes, carrinhos, tartarugas, jarrinhos e lâmpadas, “que ascendiam nossas idéias de como muito pode ser feito sem precisar ir pro lixo”, como bem disse Marisol Albano, companheira de transição. E completou: “a tarde foi caindo deixando a paisagem ainda mais linda, e os corações cada vez mais felizes e sincronizados batendo juntos de alegria por sentir tanta sintonia de luz, de cura, de amor e amizade, anunciando essa linda rede que se forma, de pessoas fortes - guerreiros na luta pela transformação desse pedacinho especial da cidade.”


Na Abreulândia, o encontro foi na sede da Associação Náutica Desportiva da Abreulândia – ANDA, onde houve um debate sobre os esportes náuticos e o meio ambiente, sendo destacado a potencialidade que aquela região tem para as práticas do surf, kite surf e stand up paddle. O adepto dos esportes Flávio, contou a interessante história do Stand Up, e mostrou vídeos e imagens da prática do esporte no local, descortinando lugares paradisíacos nas nossas redondezas, completamente desconhecidos pela grande maioria dos fortalezenses.


Após o debate houve uma oficina de produção de sabão ecológico, ministrada pelo companheiro JB ABREU. O sabão é feito com o óleo de cozinha depois de usado, que atualmente é despejado no esgoto, que por sua vez desemboca no mar, gerando impacto ambiental de considerável relevância naquele verdadeiro mosaico de unidades de conservação.


A criação de uma fábrica de sabão ecológico é um projeto de desenvolvimento local, que promoverá geração de emprego e renda pra população, ao passo que contribuirá para a preservação do meio ambiente, evitando que todo o óleo produzido pelas barracas de praia seja despejado na natureza. Os materiais utilizados para a produção do sabão atualmente são improvisados e em pouca quantidade, sendo portanto muito bem vindos apoios financeiros, doações de aparelhos e demais utencílios necessários no processo, que é bastante simples.


Findando o tarde, fizemos um círculo de conversa sobre a necessidade de se trabalhar a Linha do Tempo contruída na ocasião do curso, sendo enfatizado que o grupo está sedento por ações mais ousadas em direção à transição, e precisando estabelecer os principais pontos e estratégias para alcançar os objetivos traçados. Para isso, foi marcado o próximo encontro para o dia 23 de julho, onde será pontuado o que pode ser iniciado a partir de agora, liberando a evidente energia de ação deflagrada nos primeiros dez anos da Linha do Tempo.


Ao mesmo tempo em que se revelou a ânsia de de se pôr em prática ações de maior peso e amplitude, percebemos que o processo estava acontecendo de forma natural e gradativa, considerando que este era apenas o terceiro encontro do grupo, e que é igualmente importante esse passeio pelas comunidades, o reconhecimento de suas características, dificuldades e potencialidades, e o contato com a sua gente.



O encontro findou com os últimos raios de sol, em uma grande roda de esperança e aconchego entre todos que se faziam presentes, momento em que houve a doação de duas pranchas e alguns coletes de surf para a ANDA, que foram entregues simbolicamente para a atleta profissional Nayara Silva, moradora da Abreulandia, campeã brasileira de surf e orgulho dos surfistas da comunidade.

As pranchas foram doadas em homenagem ao Magão, um guerreiro de luz que foi fundador e instrutor da escolinha de surf “Magic Surf” e era também membro da ANDA, quando fez a sua partida inesperada em março desse ano. A ida do Magão deixou muita tristeza e vazio, mas também a importante missão de dar continuidade ao seu trabalho e ajudar na concretização do seu sonho que agora também é nosso: promover o desenvolvimento do esporte na região e ver a comunidade, ONG’s, sociedade civil, poder público e universidades se unirem em prol do crescimento sustentável daquele pequeno paraíso, abençoado por Deus e bonito por natureza.

Todos são bem-vindos nessa luta de paz.





sexta-feira, 3 de junho de 2011

Vamos falar de liberdade.

Garopaba, SC, 30 de maio de 2011


Acordo nessa segunda-feira depois de um longo sonho com uma amiga de muitos anos. Passei boa parte da noite dançando e me aventurando com Cris Cordeiro e toda sua família. Depois do café lí um artigo do livro que Luciana nos presenteou: Gaian Economics Living Well within Planetary Limits. A autora do artigo é Vandana Shiva uma mulher indiana, forte e ativista. Justo quando inicio uma nova semana; nesse mesmo mundo onde Belo Monte será construída inundando as terras de mais de 40.000 índios do Xingú e o novo Código Florestal é aprovado com uma massiva votação dos nossos ilustríssimos representantes políticos, recebo um pouco de energia otimista para continuar a cultivar esperança ao meu redor.
Sim. Sinto revolta e muitas vezes tristeza diante de tanta incoerência do sistema que rege as teias da nossa realidade coletiva. Para mim quase nada faz sentido nesse conjunto de crenças, leis e necessidades que insistem em me empurrar como sendo a Vida, e que portanto devo aceitar resignada que: é assim mesmo.
Poderia escrever horas sobre o que me parece absolutamente errado... embora ao meu ver tudo não passaria de uma série de reações a uma única ação: a forma como compreendemos a Vida.

O que está errado é o fato de que a vida não está sendo valorizada. As vidas dos gramados, dos humanos, dos animais, das flores – todas são valiosas. Essa é a verdade universal. Vocês têm direito à própria sexualidade, a dizerem o que sentem, a seguirem a própria verdade e a não obedecerem às regras tolas de alguém”.

A mensagem é retirada de outro livro que também estou lendo agora “Terra: chaves Pleiadianas para a Bliblioteca Viva” esse foi presente da amiga flor Helena. Um complementa o outro nessa segunda-feira de sol encoberto por nuvens e vento frio. Vou através deles tecendo minha trama pessoal dentro da rede maior que nos conecta a tudo que possuiVida nesse planeta.
Pelas palavras de Vandana Shiva acesso o conceito de Earth Democracy (Democracia da Terra) que nos coloca enquanto membros de uma Família Terrestre da qual pertencem todos os seres vivos como um mosaico culturalmente diversificado. Diversidade significa liberdade. Toda e qualquer forma de monocultura: uma raça, uma religião, uma visão de mundo, indicam a exclusão da nossa liberdade. Nesse sentido animais, vegetais e minerais assumem a posição de membros da mesma família a qual pertencemos, merecendo nosso respeito, liberdade e nossa responsabilidade. E essa é realmente uma forma completamente diferente de compreender a Vida.
Atualmente vivemos um paradigma onde temos direitos sem ter responsabilidades e responsabilidades sem ter direitos. Corporações, o Estado e políticos estão aí para lutar firmemente pela manutenção desse sistema atuando através das normas, do capital e das leis... mas e se acontece de a gente querer mudar? Querer criar algo totalmente novo? Experimentar um novo paradigma para ver quais serão as novas possibilidades? E não saber por onde começar...
A gente pode ficar com medo, pode se acomodar, pode querer nem ligar e continuar a vida exatamente como está ou querer que alguém diga o devemos fazer agora. Qual é exatamente o rumo certo? Pode ser assustador para muita gente descobrir que vai ter que agir primeiro sozinho se quiser ver alguma mudança acontecer. Tudo começa dentro de nós mesmos, no quintal das nossas casas, no que pensamos, no rumo que damos à nossas vidas... e aí quem sempre coloca sua vida na mão de alguém para ser governada, esperando pelas leis e pelos decretos fica sem saber como exercer sua liberdade, por que perdeu a prática de exercer o pensamento livre... fica com medo de falar o que pensa e de viver o que acredita e assim perde sua liberdade dentro da segurança da normalidade que unifica o pensamento, massifica a cultura e pasteuriza a existência.
Sei que estou agora absorvendo informações polêmicas e novas teorias que estão a borbulhar dentro de mim mesma, mas de certa forma não temo a ebulição. Nada disso chegou até mim a toa. Eu busquei consciente. E agora recebo. Então deixa a corrente fluir, deixa ser livre, o melhor é não saber mesmo no que vai dar... por que dos caminhos conhecidos eu já sei bem o que não quero.


El Roque Nublo, Islas Canárias, España

terça-feira, 17 de maio de 2011

A Economia, As Pessoas e o Meio Ambiente, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira

Fonte: Portal EcoDebate, 12/05/2011

Indiscutivelmente, não há como refutar uma assertiva: crescer economicamente é usar o meio ambiente e, em decorrência desse atual “uso”, crescer significa, grosso modo, “destruir”. Dessa forma, essa premissa pode ser assim reescrita: “Consome-se, logo, destrói-se”. “Produz-se mais, logo, agride-se mais”.

Pois bem. Numa sociedade centrada no uso e na força do dinheiro como elemento potencializador do consumo, outra premissa tende, por primazia, a se estabelecer: “o consumo consome o consumidor”, como diz acertadamente Frei Betto em “A Mosca Azul”.




No entanto, paira diante disso uma crucial e instigadora pergunta: como produzir para atender a desejos de consumo cada vez mais ilimitados se há visivelmente limites e pré-condições impostas e conhecidas pela natureza que impossibilitam, sobremaneira, esse atendimento em escala crescente?

Como há desejo de prontamente atender as necessidades mercadológicas impostas pelo apelo consumista, por sinal cada vez mais voraz, deve-se ter em conta aquilo que Clóvis Cavalcanti chama a atenção com bastante veemência: “mais economia implica menos ambiente”.

Na esteira dessa análise, frequentemente temos visto a incidência de um equívoco conceitual que impera no seio da economia tradicional insistindo em não diferenciar crescimento (aumento – quantitativo) de desenvolvimento (melhoria – qualitativa).

De um lado têm-se a receita tradicional da macroeconomia, qual seja: buscar o crescimento econômico ilimitado. Do outro, têm-se a questão ecológica que atesta a não existência de recursos naturais em quantidades disponíveis para a ocorrência desse tal crescimento.

Conquanto, o que precisa ficar esclarecido é que uma maior produção econômica irá derrubar mais florestas, irá agredir o solo, usar mais água, o ar, a energia, pondo em risco a estabilidade do clima que, por sinal, já vem capenga dada a agressão constante do processo produtivo sobre as coisas da natureza.


Outrossim, crescer além da conta significa aumentar o intercâmbio global de produtos, o que resulta enfraquecer substancialmente o mercado interno em nome do exclusivo atendimento ao modelo de globalização que recomenda como “receita de sucesso” que tenhamos sempre a geladeira repleta de produtos importados.

Ora, é simplesmente insano fazer com que um ketchup, por exemplo, vindo dos Estados Unidos “viaje”, às vezes, mais de 10 mil quilômetros para chegar ao mercado brasileiro quando poderia ser produzido domesticamente e “viajar” menos de 1.000 km para chegar às mesas dos brasileiros. Há um gasto energético intenso envolto nessa “viagem” do ketchup de fora para cá que é altamente agressivo sobre o meio ambiente e potencialmente gerador de CO2. Tomemos outro exemplo: a fruta nectarina produzida em Badajoz, na Espanha, “viaja” quase 400 quilômetros de caminhão queimando combustível até chegar a Portugal, no Porto de Lisboa. De lá vem ao Brasil, chegando ao Porto de Santos vinte dias depois. Imaginemos o quanto não foi gasto em termos energéticos nesse processo.


Isso é inadmissível numa sociedade que já consome em energia e recursos o equivalente a um planeta e 1/3. Acreditar nesse modelo é continuar jogando terra sobre a capacidade de se obter desenvolvimento, pois isso está longe de melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Portanto, diante disso há outra assertiva que não pode ser refutada: se a economia desde seus estudos iniciais emergidos da Filosofia Moral tem como fito precípuo promover o bem-estar das pessoas é impossível aceitar pacificamente que os modelos econômicos continuem ignorando dois elementos fundamentais, as pessoas e o meio ambiente.

Definitivamente, a economia (ciência) só possui sentido de existência se, e somente se, incorporar em suas análises as pessoas e passar, de forma definitiva, a tratar com relevância a questão ambiental, visto que depende dessa para tudo. Historicamente, tanto as pessoas como a questão ambiental tem sido relegadas a um segundo plano, numa visão míope da economia que se sobrepuja arrogantemente sobre o meio ambiente, não reconhecendo ser apenas um subsistema desse meio ambiente. Não incorporando em seus modelos e análises as pessoas e o ecológico, a ciência econômica tende a continuar como está: apenas respondendo pelo crescimento e fechando os olhos para o crucial, o desenvolvimento sócio-ambiental-humano. Não trilhando os caminhos que conduzem a um sistema econômico mais fraterno e ambientalmente saudável, fica a economia cada vez mais longe de seu pressuposto elementar nascido com o intuito de proporcionar melhoria de vida a todos.




Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. É articulista do Portal EcoDebate, do site “O Economista”, da Agência Zwela de Notícias (Angola) e do jornal Diário Liberdade (Galiza, Europa).
Contatos:
e-mail – prof.marcuseduardo@bol.com.br
Twitter – http://twitter.com/marcuseduoliv


terça-feira, 10 de maio de 2011

Movimento Transition Towns chega à Fortaleza


Movimento Transition Towns chega à Fortaleza

Estimular habilidades necessárias para se iniciar um processo de transição que vise à sustentabilidade dos meios urbanos a partir da transformação de cidades insustentáveis, de moradores demasiados consumistas, em cidades menos dependentes do petróleo, com pessoas mais conscientes e interligadas à natureza. É com este objetivo que Fortaleza recebe, nos dias 14 e 15 de maio, o treinamento Transition Towns. Iniciativa da Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano da Prefeitura Municipal de Fortaleza - SEMAM, em parceria com as ONG´s Maloca Sustentável e Cura do Planeta e com o Instituto Nordeste Cidadania – Inec, o treinamento será facilitado pela educadora e designer em sustentabilidade May East – também Diretora da Gaia Education e integrante da rede internacional de treinadores do Movimento Cidades em Transição - e pelo arquiteto e fundador do Instituto Centro de Referência Integração e Sustentabilidade – CRIS, Marcelo Todescan.

Com a idéia de unir e mobilizar pessoas de determinada região, seja moradores de uma rua, de um bairro e até de uma cidade para discutir problemas do meio urbano nos segmentos sociais, ambientais, econômicos e culturais e propor soluções resilientes, o movimento chega a Fortaleza no intuito de ter a sua metodologia aplicada na primeira área de proteção ambiental (APA) administrada pelo município de Fortaleza, a Sabiaguaba.

De acordo com Luciana Campos, Presidente da Maloca Sustentável, “A filosofia e a metodologia do Transition Towns está em consonância com as diretrizes apontadas pelo Plano de Manejo das Unidades de Conservação da Sabiaguaba. Assim, o objetivo do treinamento é capacitar agentes e parceiros para atuarem de forma integrada na implantação do primeiro bairro ecológico de Fortaleza, a Sabiaguaba”.

Para o Coordenador de Políticas Ambientais da Secretaria Municipal de Fortaleza – Semam, Rafael Tomyama, “para que a cidade cumpra seu papel sócio-ambiental de forma adequada, é necessário um planejamento urbano de longo prazo onde se aliem poderes públicos, empresas, universidades e sociedade em geral, por uma vida realmente sustentável. O Movimento Transition Towns (Cidades em Transição) nos leva a refletir e nos mobiliza para a ação de realizar este sonho de cidade sustentável na perspectiva da totalidade, do (re)encontro das pessoas consigo mesmas e com a natureza, da qual somos parte inseparável”.

As cidades em transição crescem cada vez mais no Brasil. Cidades como Brasilândia, Boiçucanga, Granja Viana, João Pessoa, Alto Paraíso de Goiás, Laranjeiras, Cosme Velho, Alphaville, Porto Alegre, Grajaú, Curitiba e Botafogo já entraram no movimento. Agora é a vez de Fortaleza!

O Movimento Transition Towns

O movimento das Cidades em Transição, ou Transition Towns, foi criado pelo inglês Rob Hopkins com o objetivo de transformar as cidades em modelos sustentáveis, menos dependentes do petróleo, mais integradas à natureza e mais resistentes a crises externas, tanto econômicas quanto ecológicas. Hoje o movimento se faz presente em 34 países do mundo. Já são 360 cidades oficiais e mais de 373 iniciativas preparando-se para a Transição. As iniciativas de transição criam um processo promissor que engaja pessoas, comunidades, instituições e cidades para, juntos, pensarem e implementarem as ações necessárias de curto e longo prazo para enfrentar duas questões emergentes que já começam a se fazer sentir: as mudanças climáticas e o pico do petróleo.

Os facilitadores do Treinamento em Fortaleza

Marcelo Todescan
Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie,com 20 anos de experiência. Possui cursos de extensão universitária em Direito Ambiental, nas Faculdades Metropolitanas Unidas, e treinamento em Ecovilas, Permacultura, Bio-construção, Energia Renováveis, Saúde nas Ecovilas e Ecologia Profunda. Membro da Ecovillage Network of the Américas – Brasil, Gaia Education e Transition Towns. Sócio do escritório Todescan Siciliano Arquitetura, membro e Fundador do Instituto CRIS Referencia Integração Sustentabilidade. Membro Fundador da revista GEA – Global Ecologia Arquitetura, e membro, articulador e treinador oficial da rede Transition Towns Brasil.
May East
Educadora e designer para Sustentabilidade. Trabalha internacionalmente com o movimento global das ecovilas e como consultora de assentamentos humanos sustentáveis e cidades em transição. Mora há 19 anos na Ecovila Findhorn da Escócia, onde é Diretora de Relações Internacionais entre Findhorn Findhorn e Global Ecovillage Network junto a ONU. É Diretora do Programa Gaia Education, um consórcio internacional de designers de sustentabilidade presente em 23 países. Membra do CEO do CIFAL Findhorn, Centro de Treinamneto Associado a UNITAR- United Nations Institute of Training and Research, que oferece treinamentos em design ecológico para urbanistas e autoridades locais. May faz parte da rede internacional de treinadores das Cidades em Transição.