sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sementes sequestradas – É necessário apostar em outro modelo de agricultura e alimentação, artigo de Esther Viva


Quem ouviu falar alguma vez do tomate lâmpada, da berinjela branca ou da alface língua de boi? Difícil. Trata-se de variedades locais e tradicionais que ficaram à margem dos canais habituais de produção, distribuição e consumo de alimentos. Variedades em perigo de extinção.


A nossa alimentação atual depende de algumas poucas variedades agrícolas e de gado. Apenas cinco variedades de arroz proporcionam 95% das colheitas nos maiores países produtores e 96% das vacas de ordenha no Estado Espanhol pertence a uma só raça, a frisona-holstein, a mais comum a nível mundial em produção leiteira. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), 75% das variedades agrícolas desapareceram ao longo do último século.

Mas esta perda de agrodiversidade não tem somente consequências ecológicas e culturais, mas implica, também, no desaparecimento de sabores, de princípios nutritivos e de conhecimentos gastronômicos, e ameaça a nossa segurança alimentar ao depender de algumas poucas espécies de cultivo e de gado. Ao longo dos séculos, o saber camponês foi melhorando as variedades, adaptando-as às diversas condições agroecológicas a partir de práticas tradicionais, como a seleção de sementes e cruzamentos para desenvolver cultivos.

As variedades atuais, em contrapartida, dependem do uso intensivo de produtos agrotóxicos, pesticidas e adubos químicos, com um forte impacto ambiental e que são mais vulneráveis às secas, a doenças e pragas. A indústria melhorou as sementes para adaptá-las aos interesses de um mercado globalizado, deixando em segundo lugar as nossas necessidades alimentares e nutritivas com variedades saturadas de químicos e tóxicos, como aborda o documentário ”Notre poison quotidien” (O nosso veneno diário) de Marie-Monique Robin, estreado recentemente na França.


Até cem anos atrás, milhares de variedades de milho, arroz, abóbora, tomate, batata… abundavam em comunidades camponesas. Ao longo de 12.000 anos de agricultura, manipularam cerca de 7.000 espécies de plantas e vários milhares de animais para a alimentação. Mas hoje, de acordo com dados da Convenção sobre a Diversidade Biológica, apenas quinze variedades de cultivos e oito de animais representam 90% da nossa alimentação.

A agricultura industrial e intensiva, a partir da Revolução Verde, nos anos 60, apostou em alguns poucos cultivos comerciais, variedades uniformes, com uma base genética estreita e adaptadas às necessidades do mercado (colheitas com máquinas pesadas, preservação artificial e transporte de longas distâncias, uniformização do sabor e da aparência). Políticas que impuseram sementes industriais com o pretexto de aumentar a sua rentabilidade e produção, desacreditando as sementes camponesas e privatizando o seu uso.

Desta maneira, e com o passar do tempo, foram emitidas patentes sobre uma grande diversidade de sementes, plantas, animais, etc., corroendo o direito camponês de manter as suas próprias sementes e ameaçando meios de subsistência e tradições. Através destes sistemas, as empresas se apropriaram de organismos vivos e, através, da assinatura de contratos, o campesinato passou a depender da compra anual de sementes, sem possibilidade de poder guardá-las após a colheita, plantá-las e/ou vendê-las na temporada seguinte. As sementes, que representavam um bem comum, patrimônio da humanidade, foram privatizadas, patenteadas e, finalmente, “sequestradas”.



A generalização de variedades híbridas – que não podem ser reproduzidas – e os transgênicos foram outros dos mecanismos utilizados para controlar a sua comercialização. Estas variedades contaminam as sementes tradicionais, condenando-as à extinção e impondo um modelo dependente da agro-indústria. O mercado mundial de sementes está extremamente monopolizado e apenas dez empresas controlam 70% desse mercado.

Como indica a Via Campesina – maior rede internacional de organizações camponesas – “somos vítimas de uma guerra pelo controle das sementes. Nossas agriculturas estão ameaçadas por indústrias que tentam controlar nossas sementes por todos os meios possíveis. O resultado desta guerra será determinante para o futuro da humanidade, porque das sementes dependemos todos e todas para nossa alimentação diária”.

Do dia 14 ao 18 de Março, foi realizada a quarta sessão do Tratado Internacional sobre os Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura, em Bali. Um tratado fortemente criticado por movimentos sociais como a Via Campesina, considerando que reconhece e legitima a propriedade industrial sobre as sementes. Embora o seu conteúdo reconheça o direito dos camponeses à venda, à troca e à semeadura, o Tratado, de acordo com os seus denunciantes, não impõe estes direitos e claudica perante os interesses industriais.

Hoje, mais do que nunca, num contexto de crise alimentar, é necessário apostar em outro modelo de agricultura e alimentação que se baseia nos princípios da soberania alimentar e na agroecologia, a serviço das comunidades e nas mãos do campesinato local. Manter, recuperar e trocar as sementes camponesas é um ato de desobediência e responsabilidade, a favor da vida, da dignidade e da cultura.




Por: Esther Vivas, colaboradora internacional do Portal EcoDebate, é autora do livro “Do campo ao prato. Os circuitos de produção e distribuição de alimentos”.

Fonte: Artigo publicado em Portal Ecodebate, em 15/04/2011.
** Traduzido ao português por Tárzia Medeiros.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Bolívia cria Lei da Mãe Terra

País dá exemplo ao mundo

A Bolívia está em vias da aprovar a primeira legislação mundial dando à natureza direitos iguais aos dos humanos. A Lei da Mãe Terra, que conta com apoio de políticos e grupos sociais, é uma enorme redefinição de direitos. Ela qualifica os ricos depósitos minerais do país como "bençãos", e se espera que promova uma mudança importante na conservação e em medidas sociais para a redução da poluição e controle da indústria, em um país que tem sido há anos destruído por conta de seus recursos, informa o Celsias.

Na Conferência do Clima de Cancun, a Bolívia destoou da maioria quando declarou que todo o processo era uma farsa, e que países em desenvolvimento não apenas estavam carregando a cruz da mudança do clima como, com novas medidas, teriam de cortar também mais suas emissões.

A Lei da Mãe Terra vai estabelcer 11 direitos para a natureza, incluindo o direito à vida, o direito da continuação de ciclos e processos vitais livres de alteração humana, o direito a água e ar limpos, o direito ao equilíbrio, e o direito de não ter estruturas celulares modificadas ou alteradas geneticamente. Ela também vai assegurar o direito de o país "não ser afetado por megaestruturas e projetos de desenvolvimento que afetem o equilíbrio de ecossistemas e as comunidades locais".

Segundo o vice-presidente Alvaro García Linera. "ela estabelece uma nova relação entre homem e natureza. A harmonia que tem de ser preservada como garantia de sua regeneração. A terra é a mãe de todos". O presidente Evo Morales é o primeiro indígena americano a ocupar tal cargo, e tem sido um crítico veemente de países industrializados que não estão dispostos a manter o aquecimento da temperatura em um grau. É compreensível, já que o grau de aquecimento, que poderia chegar de 3.5 a 4 graus centígrados, dadas tendências atuais, significaria a desertifição de grande parte da Bolívia.

Esta mudança significa a ressurgência da visão de um mundo indígena andino, que coloca a deusa da Terra e do ambiente, Pachamama, no centro de toda a vida. Esta visão considera iguais os direitos humanos e de todas as outras entidades. A Bolivia sofre há tempos sérios problema ambientais com a mineração de alumínio, prata, ouro e outras matérias primas.

O ministro do exterior David Choquehuanca disse que o respeito tradicional dos índios por Pachamama é vital para impedir a mudança do clima. "Nossos antepassados nos ensinaram que pertencemos a uma grande família de plantas e animais. Nós, povos indígenas, podemos com nossos valores contribuir com a solução das crises energética, climática e alimentar". Segundo a filosofia indígena, Pachamama é "sagrada, fértil e a fonte da vida que alimenta e cuida de todos os seres viventes em seu ventre."



Fonte: Planeta Sustentável

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Lançada campanha nacional permanente contra o uso de agrotóxicos e pela vida


Movimentos sociais e pesquisadores afirmam que é possível e urgente produzir sem venenos que afetam a saúde humana e do meio ambiente

Suco de frutas, verduras, legumes, cereais. Alimentação saudável? Nem sempre. Lançada nesta semana, no Dia Mundial da Saúde (7 de abril), a Campanha permanente contra o uso de agrotóxicos e pela vida pretende alertar que o veneno usado nos cultivos agrícolas brasileiros prejudica muito a saúde das pessoas e do meio ambiente. De acordo com a organização da campanha, com os atuais níveis de utilização de agrotóxicos, cada brasileiro consome em média 5,2 kg de veneno por ano e o Brasil foi considerado em 2009, segundo o sindicato dos próprios produtores de defensivos agrícolas, o maior consumidor destas substâncias pelo segundo ano consecutivo. A campanha é organizada por mais de 20 entidades e movimentos sociais, que pretendem realizar atividades em todo o país para conscientizar sobre a necessidade de outro modelo de produção agrícola, sem utilização de veneno e baseado no respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente, para aí, sim, produzir alimentos verdadeiramente saudáveis.

A campanha escolheu o Dia Mundial da Saúde para lançar oficialmente as atividades. Mas, mesmo antes da data, seminários, palestras e outros eventos tiveram como tema o prejuízo dos agrotóxicos à saúde. Em Brasília, uma passeata contra o uso de agrotóxicos e em defesa do código florestal reuniu mais de duas mil pessoas. A atividade fez parte da Jornada contra o Uso de Agrotóxicos, em Defesa do Código Florestal e pela Reforma Agrária, realizada nos dias 6 e 7 de abril. O professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília, Fernando Carneiro, presente nas atividades da jornada, conta que os eventos foram lotados. Para ele, lançar a campanha no Dia Mundial da Saúde é muito simbólico. “Quando se fala de saúde da nossa população sempre se associa à fila de hospitais, mas hoje [7 de abril] foi uma manhã histórica porque estávamos discutindo verdadeiramente o conceito ampliado de saúde, discutindo o modelo agrícola brasileiro, o que este modelo tem gerado em termos de impacto às populações e as dificuldades do próprio sistema de saúde em notificar os problemas decorrentes do uso de agrotóxicos”, detalha.

O professor explica porque as lutas contra o uso de venenos na agricultura e em defesa do código florestal são convergentes. “A bancada ruralista quer alterar a legislação para liberalizar os agrotóxicos. No código florestal, vemos o mesmo movimento. E quem está por trás destas duas articulações é o próprio agronegócio: querem desmatar mais áreas e querem ter isenção de impostos para agrotóxicos. Além disso, os temas se relacionam porque à medida que se limita a proteção das nascentes com a mudança no código florestal, por outro lado, se facilita a contaminação da água pelos próprios agrotóxicos. Então, são temas com interação muito grande, que significam ameaça à biodiversidade, à qualidade da água, elementos vitais para o nosso país”, diz.

Para a coordenadora do Sistema Nacional de Informações Toxico Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rosany Bochner, é necessário negar totalmente o uso dos agrotóxicos devido aos prejuízos que tem causado à saúde. “É preciso deixar claro que o que queremos com a campanha não é usar produtos menos tóxicos, não é nada paliativo. Nós não queremos mais agrotóxicos de nenhuma forma. É uma mudança de filosofia, temos que partir para produzir diversidade. Vamos ter que comer diferente, que fazer muita coisa e não depende só do agricultor, depende também da população, porque do jeito que está não é possível mais ficar”, reforça. Rosany, que também é consultora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), participou, junto à EPSJV/Fiocruz e a Via Campesina, de um seminário na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) sobre os impactos dos agrotóxicos.

No dia 7 de abril, também foram realizadas atividades no Espírito Santo, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais, Sergipe e Goiás. Em Limoeiro do Norte, no Ceará, nos dias 19 e 20 de abril, serão realizadas várias mobilizações contra o uso de agrotóxicos e em protesto pela impunidade do assassinato do líder comunitário José Maria Filho, conhecido como Zé Maria do Tomé, que denunciou os impactos dos agrotóxicos na região. No dia 21 de abril faz um ano que o agricultor foi assassinado próximo de casa e as investigações, até o momento, não apontaram os autores do crime.

Também no Dia Mundial da Saúde, na Câmara Federal, uma subcomissão especial criada para avaliar as conseqüências do uso de agrotóxicos para o país realizou uma audiência pública sobre o tema com a presença da Anvisa, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), órgão favorável ao uso dos venenos nos cultivos. De acordo com a Agência Câmara, Anvisa e MPA divergiram radicalmente do representante da CNA. “Enquanto a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) defendeu a modernização do uso desses insumos, um representante da Anvisa e uma deputada apontaram os efeitos negativos para a saúde humana. Já o representante dos pequenos agricultores defendeu o fim do uso dos agrotóxicos”, informou a Agência Câmara.

Riscos à saúde

O material da campanha alerta que os agrotóxicos causam uma série de doenças como câncer, problemas hormonais, problema neurológicos, má formação do feto, depressão, doenças de pele, problemas de rim, diarréia, entre outras. Recentemente, uma pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul detectou a presença de agrotóxicos no leite materno. “Diante de tantas evidências de problemas, não há mais o que discutir. Este leite envenenado é muito grave, não dá mais para ter meio termo. Sabemos que é uma luta de Davi contra Golias, porque são empresas extremamente poderosas [as empresas produtoras de agrotóxicos]. Mas eu queria saber se eles comem estes produtos cheios de agrotóxicos”, questiona Rosany.

Além da proibição definitiva do uso de venenos, a campanha afirma ainda que a saída para uma alimentação saudável e diversificada está no fortalecimento da agricultura familiar e camponesa. Para isso, propõe uma série de ações, como a reforma agrária para acabar com os latifúndios, o fim do desmatamento, a geração de trabalho e renda para a população rural, o uso de novas tecnologias para acabar com a utilização de agrotóxicos e a produção baseada na agroecologia.

De acordo com Rosany, a Anvisa está muito disposta a discutir o uso destes produtos tóxicos, entretanto, existe uma resistência de setores do próprio governo e do legislativo. “Tem uma bancada ruralista que quer liberar a todo custo os agrotóxicos”, pontua. A pesquisadora destaca também as dificuldades de informação sobre os riscos de agrotóxicos no sistema de saúde. “Não estamos acostumados a trabalhar com casos crônicos, as redes de saúde não conseguem relacionar os sintomas com a exposição aos agrotóxicos, dificilmente as pessoas fazem essa relação e isso dificulta muito na hora da discussão porque eles [os defensores do uso de agrotóxicos] falam que não temos evidências. Temos que fazer um esforço maior nisso, fazer um treinamento melhor nos serviços de saúde, mas é preciso investimento”, afirma.

Para Fernando Carneiro, o Ministério da Saúde ainda é muito omisso em relação ao enfrentamento do problema de identificação das intoxicações, tanto no campo da saúde do trabalhador, quanto da saúde ambiental. “Eu quero que o Ministério da Saúde faça campanha sobre os riscos dos agrotóxicos. Como faz com a campanha contra a Aids, pelo uso da camisinha. O Ministério poderia investir também para fazer cartilhas e difundir informações sobre os riscos dos agrotóxicos. Hoje, o único setor que faz propaganda é o próprio agronegócio, para fazer apologia ao uso”, alerta.

Reportagem de Raquel Júnia – Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio – EPSJV/Fiocruz, publicada pelo EcoDebate, 11/04/2011

Fortaleza perdeu 90% de cobertura vegetal em 35 anos


Matéria publicada no Jornal cearense Diário do Nordeste, no dia 03 de abril de 2011

O que restou de vegetação nativa sofre com podas muitas vezes desnecessárias e falta de plano de arborização


Segundo o Inventário Ambiental de Fortaleza nos anos 1968 e 2003, a cidade perdeu cerca de 90% de sua cobertura natural. Isso coloca o fortalezense em contexto de baixa qualidade de vida, pois existe menos de 4 m2 de área verde por habitante na cidade. Em 1968 a cidade tinha 66% de áreas verdes. Em 2003, o Município contava apenas com 7% de vegetação, representando uma perda de quase 90%.

Quem mora em Fortaleza sente na pele o que é viver numa cidade cheia de problemas ambientais. As agressões tanto à natureza quanto aos moradores da cidade parecem não ter fim - e nem alternativas. Na verdade, as soluções existem, apontam especialistas. E todas começam no mesmo lugar: numa mudança na forma de encarar os problemas por parte do Poder Público. Fato que está longe de acontecer. Promessas existem, mas ficam no vazio do plano das ideias, nada mais.

Sem um plano de arborização, aponta a arquiteta Mariana Reynaldo, a cidade tem perdido gradativamente os espaços verdes. As vias estão cada dia mais desnudas devido o corte de árvores de forma indiscriminada ou a queda de algumas espécies. "Isso sem falar de verdadeiros absurdos contra o meio ambiente como a destruição das raízes para a construção de canteiros ou a passagem de tubulação", aponta ela.

O fato denunciado pela arquiteta foi constatado pela reportagem do Diário do Nordeste. Em plena Avenida Jovita Feitosa, numa obra do Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor), operários cortaram as raízes de árvores para fazer o canteiro central. A direção do Programa não se pronunciou até o fechamento dessa edição.

A questão, aponta o engenheiro agrônomo Pedro Henrique Albuquerque, é que Fortaleza se transformou numa cidade de concreto. Na média, o município possui menos de quatro metros quadrados de área verde por habitante, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) define um mínimo de 12 m²/hab para uma boa qualidade de vida. A cidade de Maringá (Paraná), considerada referência nacional em meio ambiente sustentável, possui 13,6 m2 de área verde por habitante.



Plano

A Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam) promete implantar um Plano de Arborização para "logo". Promessa contestada pela bióloga Joana Marinho. "Faz tempo que ouço falar sobre isso e entra ano e sai ano e fica por aí mesmo".

Para moradores do entorno de avenidas como a Carapinima, como a estudante Érica Araújo, não dá mais para esperar tanto tempo. "Aqui é um verdadeiro deserto do Saara sem um pé de árvore". Pelo visto, a situação tende a perdurar. A Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb) já avisou que ali, devido ao Metrô de Fortaleza, tudo ficará como está: só asfalto.

Informação essa que não surpreende especialistas como o engenheiro agrônomo Antonio Tavares, professor da Universidade Federal de Parnaíba. De acordo com ele, "parece que estamos andando na contramão da história". Como a cidade não foi planejada levando em conta a arborização urbana, aponta, existem poucos espaços disponíveis para receber árvores.

Além disso, a vegetação urbana de Fortaleza é tão irrisória que pouco pode contribuir para a melhoria do ambiente térmico da cidade. Para o professor Tavares, em seu blog "Árvores do Tavares", o problema ambiental mais grave de Fortaleza consiste tanto na falta de vegetação, quanto no manejo inadequado das poucas árvores que restam, que consiste em podas abusivas. Os canteiros criaram um problema adicional. Eles são excessivamente estreitos e impermeabilizados. As raízes precisam de oxigênio e água para se desenvolverem. O aumento da impermeabilização aumenta também os riscos de enchentes.

O vereador João Alfredo, calcula que o nosso déficit seja de três mil hectares de área verde. "Além de não termos uma política de preservação nem de arborização, muitas vezes, se autoriza, como no caso do bosque da Aldeota, a supressão de todas as árvores do terreno para empreendimentos imobiliários", aponta o parlamentar.

Bairro Aldeota

Nos últimos seis anos, apenas duas unidades de conservação foram criadas em Fortaleza: uma pela Prefeitura, na Sabiaguaba, outra pela Câmara, nas Dunas do Cocó, por autoria nossa. "Em suma, falta à cidade uma política pública ambiental". Segundo ele, a tendência mundial consiste em adotar modelos de planejamento e gestão urbana que seguem premissas ecológicas. "A cidade não é mais considerada como uma antítese da natureza e sim parte dela", assevera.

Sensação térmica tem razão de ser

A ocupação desordenada do solo, a ausência de arborização, a retirada da cobertura vegetal de maneira extensiva têm reflexos no clima e consequências diretas na qualidade de vida. O alerta da engenheira agrônoma, Célia Regina do Amaral, é compartilhada pelo meteorologista José Maria Brabo, da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

Segundo Brabo, a amplitude térmica da cidade - a diferença entre as temperaturas máximas e mínimas - vem diminuindo gradativamente. Atualmente na quadra chuvosa, explica ele, a temperatura de Fortaleza fica entre 27º a 28º. A partir de julho, já em tempo seco, o termômetro mede entre 29º e 30º.

Segundo ele, as variáveis que atuam para a sensação térmica mais quente ou fria são a umidade relativa do ar e os ventos. Quanto maior a umidade, maior o calor. Os ventos são responsáveis por atenuar esse quentura toda e eles estão sendo "barrados" tanto pela verticalização quanto pela impermeabilização do solo.

Onde existe muito asfalto e pouca arborização o desconforto térmico piora. Isso procede cientificamente, explica Brabo. É exatamente em decorrência da diminuição dos ventos e sua velocidade. Ele lembra que há uns sete anos a brisa vinha do oceano a uma velocidade média de 12 km por hora. Hoje, devido aos prédios, asfalto e falta de árvores, consegue chegar a 10km por hora. Indignada com a situação, a engenheira agrônoma Célia Regina aponta que os gestores de Fortaleza parecem ignorar que toda tomada de decisão urbana resulta em impactos ambientais para a cidade, e uma delas é o aumento sensação térmica.

Corte de várias árvores em terreno imobiliário na
Av. Senador Virgilio Távora esquina com Av. Santos Dumont

Emlurb

O responsável pela poda das árvores da Empresa de Limpeza de Limpeza e Urbanização (Emlurb), Franzé Sidrão, reconhece que é preciso fazer mais do para salvar as áreas verdes. Por mês, a empresa corta, em média, 80 árvores em risco e promove a poda de 1.500.

A poda também é alvo de questionamentos. Sidrião rebate a crítica afirmando que todo o corte é realizado depois que um laudo é feito por técnicos do Distrito Ambiental de cada Regional. E diz que para cada árvore cortada, duas devem ser plantadas na cidade.

ENTREVISTA

*Fernanda Rocha

Fortaleza se expande conservando situações incompatíveis. Como a Srª avalia a falta de arborização em Fortaleza?

Trata-se de uma questão cultural: a cidade cresceu ignorando seu sitio original, negando as potencialidades existentes, pautando-se em padrões e modelos exógenos, que priorizavam aspectos à época inovadores (automóvel, indústria, etc). Além disto, vem solenemente desprezando diretrizes previstas em seus instrumentos legais. Desta forma a cidade se expande conservando situações incompatíveis com novas realidades.

Quais as espécies mais adequadas para serem plantadas em canteiros centrais e calçadas ?

Nos canteiros centrais, pode-se pensar em árvores de maior porte e até frutíferas. Já em calçadas, deve-se adequar o porte da espécie ao espaço disponível de modo a não reduzir a mobilidade.

Existe incompatibilidade entre iluminação pública e arborização em Fortaleza?

Na maioria das vezes, quando do plantio, as árvores ainda são jovens e se adaptam às condições existentes, mas com o passar do tempo, passam a necessitar de podas radicais, podendo até mesmo ter reduzido seu tempo de vida.

*Arquiteta e Urbanista e professora da Unifor - viva.arte@uol.com.br



quarta-feira, 6 de abril de 2011

III Encontro Nordestino de Educação e Cidadania e III Encontro Nordestino de Educação Biocêntrica

III Encontro de Educação e Cidadania e III Encontro Nordestino de Educação Biocêntrica

No ser

Ser inteiro no outro

No olhar, broto

Sorriso maroto

Lança,

Deslancha,

Brinca,

Grita,

Silencia,

Aquieta

(Poesia de Natália)


Quinta-feira, último dia de março, estou sentada no auditório do BNB Passaré. Vivencio a abertura do III Encontro Nordestino de Educação e Cidadania e Educação Biocêntrica enquanto escrevo algumas impressões. A chegada foi uma surpresa ao me deparar com quase 700 pessoas a circular e buscar suas credenciais. Quase duzentas pessoas a mais que as inscrições feitas antecipadas. Gente de todo Brasil, das comunidades parceiras do INEC e colaboradores de outros países. Os organizadores anunciaram que todos, mesmo sem inscrições seriam acolhidos pelo evento. Depois de receber nossas credenciais e compartilhar um farto café-da-manhã, sentamos na grama e ficamos a observar o intenso movimento dos participantes.

Logo na abertura do evento, no auditório repleto de pessoas, fomos presenteados com uma bela apresentação da Orquestra Filarmônica Estrelas da Serra composta por jovens e adolescentes e regida pelo maestro Hélio Jr. Emocionaram a platéia em uma apresentação contagiante. Tocaram diversos estilos incorporando o clima de cada um com adereços, coreografias e arranjos muito criativos. A platéia logo estava entregue à música dos garotos e dançava, cantava, aplaudia completamente entregue ao momento. Fico encantada em observar a espontaneidade do meu povo, cearense e brasileiro.

Somos um povo movido a alegria e amor é o recado da organização do evento para os participantes. Seguem-se falas de agradecimento e referência à educação transformadora, enquanto a energia de educadores visionários como Paulo Freire, Edgar Morin e Toro passeiam entre as fileiras apertadas da platéia.



Escolhemos o grupo de Arte e Cultura para o círculo de diálogo que aconteceu no final da manhã. Produzimos palavras geradoras e tive a alegria de ser relatora do grupo e transcrever em palavras nossos sentimentos que foram lidas junto aos relatos dos outros grupos.


O segundo dia do evento foi o dia mais intenso de atividades para nós. Pela manhã mesa e apresentações artísticas no auditório, seguidos dos círculos de diálogo. Dessa vez vivenciamos o de Meio Ambiente, no qual a dinâmica era diferente. Formamos dois círculos: o de dentro se expressava com o estímulo de palavras geradoras postas no solo presas a pedrinhas; o de fora observava. No final construímos uma árvore com as palavras geradoras. Manu foi a relatora e compartilhou nossa experiência para todos no auditório.
Passamos a tarde na companhia do padre Rino e dos índios Pitaguaris. Dançamos e cantamos para iniciar a tarde. Os tambores marcando a pulsação no Torem. Sentamos em círculo ao redor de filtros dos sonhos, colares, penas, pedras e diversos objetos de poder que mesclavam a tradição nativa norte-americana Lakota e do povo indígena Pitaguari, nativos das nossas terras ensolaradas. Senti um despertar da nossa ancestralidade. Percebi o quanto sei pouco sobre meus ancestrais e senti vontade imediata de indagar minha avó sobre essas coisas. Outro forte sentimento que permeou o encontro foi o de pertencer. Enquanto muitos jovens nativos indígenas nascidos em comunidades negam sua identidade cultural, muitos de nós que nem ao menos sabemos pistas sobre nossa etnia sentimos a força da cultura indígena pulsar em nossas veias. Enquanto Carlinhos falava sobre as dificuldades do FUNAI reconhecer alguém legalmente como índio me atravessava o pensamento: quem de nós brasileiros não tem um muito de índio também! Compartilhamos o cachimbo com ervas e menta para selar nosso entendimento. O dia acabou com uma gigantesca roda de biodança, uma caldeira a pulsar vida e a emanar amor ao nosso coração e ao cosmos.
O terceiro e último dia amanheceu chovendo. Chegamos no finalzinho do Maracatu e sentimos pela energia gerada no ambiente que a apresentação foi especial. Logo as salas das vivências ficaram lotadas. Consegui um cantinho e fui recebida com amor por Clevandira e Clélia em sua vivência para exercício da criatividade. Muita biodança troca de olhares, desenhos e abraços. O tempo passou voando. Depois do almoço, que foi gentilmente doado pelo evento, produzimos uma pequena apresentação utilizando nossos corpos e desenhos que compartilhamos em seguida com todos. Teve também bandinha com os meninos do Sussuí e Circo explodindo em cores e alegria.
A Maloca esteve presente com a participação de Núria, André, Paulo, Drica, Rafael Planta, Gisa e Luciana que apresentou uma vivência sobre o trabalho no Sussuí no primeiro dia pela tarde. Fica aqui nossa gratidão a toda a turma biocêntrica de educadores revolucionários que acreditam em uma educação viva e nos proporcionaram essa troca de conhecimento e vivencias.

Sou Drica Oliveira, arte-educadora e colaboradora da Maloca. Essa foi a minha experiência pessoal nesses dias biocêntricos que compartilho com vocês!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Inauguração da Praça da Cura do Planeta no dia 09 de abril!


No próximo dia 09 de abril, acontece a inauguração da Praça da Cura do Planeta, com uma programação cheia de atividades para todas as idades! Compareça!!

Praça da Cura do Planeta: Av. Senador Virgilio Távora, 867 - Meireles

Programação:

14h às 18h - Crianças (Mão na Terra, Eco brinquedos, Contação de Histórias, Malabares para Crianças e Intervenções Artísticas)

16h - Abertura e Recepção de Convidados
16h30 - Yoga
17h15 - Dança Circular e oficina "carteira reciclada"
17h30 - Roda aberta de capoeira angola
18h30 - Batuque e Cia
19h15 - Tambor de Crioula: Filhos do Sol
19h30 - Intervenção com Fogo
20h - Cerimonial
20h15 - Música (Bandas Bakti e Reggaefonica) Jam Session

E mais: Espaço de terapias naturais e arte com graffiti - R.A.M Crew

Informações: (85) 3023.1234

Feiras Agroecológicas do Benfica em Abril!

Mês de abril: Dias 09 e 30(Excepcionalmente por causa do feriado da Semana Santa) - de 7h as 12h da manhã

Praça da Gentilândia, Av. 13 de Maio no Bairro Benfica - Fortaleza/CE

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sombras do Lixo

Artista Cria imagens inacreditáveis com projeções de luz em pilha de lixo



A frase que diz “o lixo do homem, é o tesouro de outro homem“, faz todo sentido para a arte do casal inglês Tim Noble e Sue Webster, eles criaram uma nova modalidade de arte utilizando lixo e a projeção de luzes.


Os artistas criam uma espécie de escultura com lixo coletado pela ruas de londres e ao projetar luz nesta escultura são projetadas silhuetas a arte vem à vida e a sombra criada na parede gera uma imagem inacreditável e rica em detalhes.

É surpreendente imaginar que a silhueta perfeita é criada a partir de uma pilha de lixo e este contraste é exatamente deixa a arte tão incrível.




O trabalho de Tim e Sue foi uma iniciativa tão bem vista e elogiada artisticamente que foi incluído na exposição “Apocalipse: a beleza e o horror” na Academia Real de Arte Contemporânea.

É incrível ver o crescimento de arte e obras interessantes que nascem de uma ideia simples como reutilizar o lixo.

Fonte: http://www.coletivoverde.com.br/sombras-do-lixo/