quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

É cuidar que se ganha



Texto por Paulo Geraldo
http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo351.shtml




Os direitos das crianças, os direitos das mulheres, os direitos das minorias. Os meus direitos, os teus direitos, os nossos direitos, os direitos de todos. O direito ao bom nome, o direito à livre expressão, os direitos de autor. O direito de ter direitos. O estojo onde me sinto confortável, o teu ninho de comodidade... Não me incomodes e eu não te incomodo.
Faz o que quiseres desde que não me pises. E não te metas na minha vida... Mas a verdade é que não é possível fazer seja o que for com pessoas, tendo isto como fundamento. Aquilo que juntou os homens não foram os direitos. Os homens não fizeram aldeias, vilas e cidades para virem a ter direitos. Fizeram famílias porque amavam, e o amor conduz naturalmente à união. E as famílias juntaram-se a outras famílias para virem a ser uma família maior.

Para se protegerem uns aos outros. Para tornarem mutuamente mais agradável os anos passados no planeta. Porque é fantástico termos ao nosso lado muitas pessoas que nos ajudam a crescer e a quem podemos tornar felizes.

O problema agora é que os homens já não percebem por que vivem juntos. Prezaram um certo tipo de independência - que é uma maneira de serem sozinhos. Tendo esquecido por que razão se juntaram, estorvam-se uns aos outros. São rivais: nas filas de trânsito, no supermercado, no trabalho. Na família. Há muitos que se sentem incomodados simultaneamente pelo fato de terem pais e pelo fato de terem filhos...

Aquele que envelheceu e já não pode valer-se a si mesmo é um incomodo para o que ainda não envelheceu. Aquele que fuma é um estorvo para o que não fuma. E aquele que não fuma estorva o fumador. O que está doente incomoda aquele que ainda é saudável. O que quer ouvir música é um estorvo para o que prefere o silêncio.

Os homens vivem perto uns dos outros, mas são sós. É uma estranha vizinhança. Como já não amam, tentam prolongar a união - talvez por hábito, talvez por medo, talvez por interesses - sem aquilo que tinha sido a causa da união.

Mas o convívio motivado por motivos desse gênero não pode subsistir. Não tem consistência nem alma. Não consegue passar de aparência de convívio. Usaram-se direitos e leis para tentar manter aquilo que não pode ser mantido apenas dessa forma. Para permitir que vários egoísmos se desenvolvessem lado a lado.

Em muitos aspectos, a nossa sociedade ocidental faz lembrar um quase-cadáver mantido por uma máquina que lhe faz artificialmente a respiração. Que lhe mantém funções que ele já não é capaz de realizar por si mesmo. Falta muito pouco para que aquele corpo comece a desagregar-se, porque já não tem alma.

Só o amor pode manter aquilo que deve a existência ao amor. E o amor não tem nada a ver com direitos. Leva a não pensar em si mesmo, ao sacrifício saboroso pelo outro, a esquecer os próprios interesses. O amor pede apenas o direito de não ter direitos. Quer perder-se no outro, morrer dando vida, gastar-se iluminando e aquecendo. Troca-se de bom grado por um sorriso feliz de quem ama.

O amor faz pelo outro muito mais do que aquilo que as leis dos homens lhe dão direito a receber. Faz muito mais que a justiça. É uma lei maior, que não está gravada em papéis, mas nos corações. Não terás necessidade de pensar no que te faz falta, se viveres rodeado por pessoas que resolveram tornar-te feliz. Assim, terás mais facilidade para, pelo teu lado, pensares no bem dos outros.
Se tiveres à tua volta pessoas que só pensam em si mesmas e nos seus interesses egoístas, terás de erguer os teus direitos como uma muralha que te defenda. Mete-te na vida dos outros. E mete a vida dos outros na tua vida. É claro que devemos fazer isso, porque a vida deles é a nossa vida. Se as alegrias dos outros não forem as nossas grandes alegrias, nunca teremos verdadeiramente alegria. Se as dores dos outros não forem dores nossas, teremos dores muito piores.
Eu sei: tens medo de que não te retribuam; achas que se pensares nos outros eles não pensarão em ti; que poderás ficar diminuído por seres sempre tu a ceder... Mas quem foi que te disse que o amor era um negócio? Onde aprendeste que era uma atividade centrada em ti mesmo, destinada a dar-te satisfação?
O amor é um mau negócio: é, como escreveu Camões num soneto lindíssimo, «cuidar que se ganha em se perder». É uma loucura que leva a acreditar que enriquecemos quando nos damos; que só somos nós mesmos quando não queremos saber de nós.
E, descansa, nenhum outro comportamento é tão contagioso.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

II Festival Latino-Americano das Juventudes em Fortaleza

A Casa da Permacultura recebeu diversas intervenções

em seu espaço físico como espirais de ervas,

composteira e forno de barro,

graças à colaboração da turma do NEPPSA.


Seguem-se os dias, mudam os ventos e a vida traz a necessidade de recriar os dias. Em um momento de inspiração e coragem topei sair da minha concha protetora e participar do Festival da Juventude a convite da minha amiga malocultora Luciana Campos. O evento, promovido pela prefeitura, aconteceu de 08 a 11 de outubro e contou com a participação de aproximadamente 6.000 jovens de diversas localidades do Brasil e do mundo. A Associação Maloca esteve presente como colaboradora no projeto da Casa da Cultura Permanente que distribuiu durante todo o festival muita informação de qualidade sobre Permacultura, Meio-Ambiente e Sustentabilidade.


Tomé (NEPPSA) facilitando o Curso de Introdução à Permacultura

para a juventude atenta às questões ambientais.


Na Casa da Cultura Permanente circularam muitas personalidades que fazem acontecer a Permacultura aqui no Ceará, além de receber a todo momento visitas de pessoas interessadas em entrar em contato com o tema. Grupos como o NEPPSA, o IPC, a Cura do Planeta, o INEC e a Maloca articularam e circularam atividades durante todo o evento.


Espaço de convivência do fogo sagrado.

Ao fundo a alegria das Danças Circulares Sagradas facilitada por Márcia Thor.


A programação incluía cursos de introdução à permacultura, trilhas ecológicas na região da Sabiaguaba, artesanato com materiais reciclados, construção de forno solar, danças circulares sagradas, entre outras atividades. Minha missão foi dar vivências em Yoga diariamente, possibilitando aos participantes do evento entrarem em contato com essa sabedoria ancestral.


::Namasté::

"O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você".



A turma aceita o desafio das posturas invertidas.


As práticas aconteceram no final da tarde ao ar livre, no jardim da Casa da Cultura Permanente, em um clima bem descontraído. Para mim foi um prazer compartilhar um pouco da minha energia com aqueles jovens cheios de vitalidade.


A força interior do guerreiro para superar os obstáculos da vida.


Para a maioria era o primeiro contato com uma prática de Yoga! É lindo ver as pessoas entrando em contato com sua própria respiração e seu corpo de forma consciente. Entoamos mantras para a Mãe Terra e canalizamos energias de paz para todos os seres vivos. Foi uma bela troca. Em mim reverbera agora o sentimento de gratidão pelos dias de intensa partilha e coletividade. Que venham os bons ventos!



.:Namasté:.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Movimento Transition Towns – A transição continua…

No sábado do dia 02 de julho, aconteceu o 3o encontro do grupo iniciador do movimento Transition Towns (Cidades em Transição) em Fortaleza. A reunião aconteceu na praia da Abreulândia, que fica próxima ao bairro da Sabiaguaba. Após o curso realizado em maio desse ano, na ONG Cura do Planeta, um grupo grande de interessados em fazer acontecer o movimento vem se reunindo para realizar vivências junto às comunidades e discutir os próximos passos rumo à transiçao.

A primeira reunião aconteceu em 04 de junho de 2011, às vésperas do Dia Nacional do Meio Ambiente, aliando-se a programação proposta pelo Grupo de Consumidores Responsáveis do Benfica. Após uma conversa fluida e produtiva na casa do Zé Albano, seguiram-se atividades envolvendo o plantio de nativas de manguezal – com direito até a banho com argila terapêutica -, construção de canteiros na comunidade, e fechando no “Cine Duna”, com a mostra do filme “O Homem que Plantava Árvores”, exibido nas dunas da Sabiaguaba, no cair da tarde. Segundo João Lucas Castanha, “o melhor cinema da cidade”. E assim se deu o pontapé inicial da transição.


O segundo encontro realizou-se na tarde do dia 11/06, na Gereberaba, mais precisamente no terreiro da Dona Maria e Seu Valdemar, onde foi feito um belo trabalho com a comunidade, com oficinas de transformação de lixo em arte, e com o plantio e tratamento de mudas.

Assim, crianças viram garrafas pet virarem lindas borboletas, peixes, carrinhos, tartarugas, jarrinhos e lâmpadas, “que ascendiam nossas idéias de como muito pode ser feito sem precisar ir pro lixo”, como bem disse Marisol Albano, companheira de transição. E completou: “a tarde foi caindo deixando a paisagem ainda mais linda, e os corações cada vez mais felizes e sincronizados batendo juntos de alegria por sentir tanta sintonia de luz, de cura, de amor e amizade, anunciando essa linda rede que se forma, de pessoas fortes - guerreiros na luta pela transformação desse pedacinho especial da cidade.”


Na Abreulândia, o encontro foi na sede da Associação Náutica Desportiva da Abreulândia – ANDA, onde houve um debate sobre os esportes náuticos e o meio ambiente, sendo destacado a potencialidade que aquela região tem para as práticas do surf, kite surf e stand up paddle. O adepto dos esportes Flávio, contou a interessante história do Stand Up, e mostrou vídeos e imagens da prática do esporte no local, descortinando lugares paradisíacos nas nossas redondezas, completamente desconhecidos pela grande maioria dos fortalezenses.


Após o debate houve uma oficina de produção de sabão ecológico, ministrada pelo companheiro JB ABREU. O sabão é feito com o óleo de cozinha depois de usado, que atualmente é despejado no esgoto, que por sua vez desemboca no mar, gerando impacto ambiental de considerável relevância naquele verdadeiro mosaico de unidades de conservação.


A criação de uma fábrica de sabão ecológico é um projeto de desenvolvimento local, que promoverá geração de emprego e renda pra população, ao passo que contribuirá para a preservação do meio ambiente, evitando que todo o óleo produzido pelas barracas de praia seja despejado na natureza. Os materiais utilizados para a produção do sabão atualmente são improvisados e em pouca quantidade, sendo portanto muito bem vindos apoios financeiros, doações de aparelhos e demais utencílios necessários no processo, que é bastante simples.


Findando o tarde, fizemos um círculo de conversa sobre a necessidade de se trabalhar a Linha do Tempo contruída na ocasião do curso, sendo enfatizado que o grupo está sedento por ações mais ousadas em direção à transição, e precisando estabelecer os principais pontos e estratégias para alcançar os objetivos traçados. Para isso, foi marcado o próximo encontro para o dia 23 de julho, onde será pontuado o que pode ser iniciado a partir de agora, liberando a evidente energia de ação deflagrada nos primeiros dez anos da Linha do Tempo.


Ao mesmo tempo em que se revelou a ânsia de de se pôr em prática ações de maior peso e amplitude, percebemos que o processo estava acontecendo de forma natural e gradativa, considerando que este era apenas o terceiro encontro do grupo, e que é igualmente importante esse passeio pelas comunidades, o reconhecimento de suas características, dificuldades e potencialidades, e o contato com a sua gente.



O encontro findou com os últimos raios de sol, em uma grande roda de esperança e aconchego entre todos que se faziam presentes, momento em que houve a doação de duas pranchas e alguns coletes de surf para a ANDA, que foram entregues simbolicamente para a atleta profissional Nayara Silva, moradora da Abreulandia, campeã brasileira de surf e orgulho dos surfistas da comunidade.

As pranchas foram doadas em homenagem ao Magão, um guerreiro de luz que foi fundador e instrutor da escolinha de surf “Magic Surf” e era também membro da ANDA, quando fez a sua partida inesperada em março desse ano. A ida do Magão deixou muita tristeza e vazio, mas também a importante missão de dar continuidade ao seu trabalho e ajudar na concretização do seu sonho que agora também é nosso: promover o desenvolvimento do esporte na região e ver a comunidade, ONG’s, sociedade civil, poder público e universidades se unirem em prol do crescimento sustentável daquele pequeno paraíso, abençoado por Deus e bonito por natureza.

Todos são bem-vindos nessa luta de paz.





sexta-feira, 3 de junho de 2011

Vamos falar de liberdade.

Garopaba, SC, 30 de maio de 2011


Acordo nessa segunda-feira depois de um longo sonho com uma amiga de muitos anos. Passei boa parte da noite dançando e me aventurando com Cris Cordeiro e toda sua família. Depois do café lí um artigo do livro que Luciana nos presenteou: Gaian Economics Living Well within Planetary Limits. A autora do artigo é Vandana Shiva uma mulher indiana, forte e ativista. Justo quando inicio uma nova semana; nesse mesmo mundo onde Belo Monte será construída inundando as terras de mais de 40.000 índios do Xingú e o novo Código Florestal é aprovado com uma massiva votação dos nossos ilustríssimos representantes políticos, recebo um pouco de energia otimista para continuar a cultivar esperança ao meu redor.
Sim. Sinto revolta e muitas vezes tristeza diante de tanta incoerência do sistema que rege as teias da nossa realidade coletiva. Para mim quase nada faz sentido nesse conjunto de crenças, leis e necessidades que insistem em me empurrar como sendo a Vida, e que portanto devo aceitar resignada que: é assim mesmo.
Poderia escrever horas sobre o que me parece absolutamente errado... embora ao meu ver tudo não passaria de uma série de reações a uma única ação: a forma como compreendemos a Vida.

O que está errado é o fato de que a vida não está sendo valorizada. As vidas dos gramados, dos humanos, dos animais, das flores – todas são valiosas. Essa é a verdade universal. Vocês têm direito à própria sexualidade, a dizerem o que sentem, a seguirem a própria verdade e a não obedecerem às regras tolas de alguém”.

A mensagem é retirada de outro livro que também estou lendo agora “Terra: chaves Pleiadianas para a Bliblioteca Viva” esse foi presente da amiga flor Helena. Um complementa o outro nessa segunda-feira de sol encoberto por nuvens e vento frio. Vou através deles tecendo minha trama pessoal dentro da rede maior que nos conecta a tudo que possuiVida nesse planeta.
Pelas palavras de Vandana Shiva acesso o conceito de Earth Democracy (Democracia da Terra) que nos coloca enquanto membros de uma Família Terrestre da qual pertencem todos os seres vivos como um mosaico culturalmente diversificado. Diversidade significa liberdade. Toda e qualquer forma de monocultura: uma raça, uma religião, uma visão de mundo, indicam a exclusão da nossa liberdade. Nesse sentido animais, vegetais e minerais assumem a posição de membros da mesma família a qual pertencemos, merecendo nosso respeito, liberdade e nossa responsabilidade. E essa é realmente uma forma completamente diferente de compreender a Vida.
Atualmente vivemos um paradigma onde temos direitos sem ter responsabilidades e responsabilidades sem ter direitos. Corporações, o Estado e políticos estão aí para lutar firmemente pela manutenção desse sistema atuando através das normas, do capital e das leis... mas e se acontece de a gente querer mudar? Querer criar algo totalmente novo? Experimentar um novo paradigma para ver quais serão as novas possibilidades? E não saber por onde começar...
A gente pode ficar com medo, pode se acomodar, pode querer nem ligar e continuar a vida exatamente como está ou querer que alguém diga o devemos fazer agora. Qual é exatamente o rumo certo? Pode ser assustador para muita gente descobrir que vai ter que agir primeiro sozinho se quiser ver alguma mudança acontecer. Tudo começa dentro de nós mesmos, no quintal das nossas casas, no que pensamos, no rumo que damos à nossas vidas... e aí quem sempre coloca sua vida na mão de alguém para ser governada, esperando pelas leis e pelos decretos fica sem saber como exercer sua liberdade, por que perdeu a prática de exercer o pensamento livre... fica com medo de falar o que pensa e de viver o que acredita e assim perde sua liberdade dentro da segurança da normalidade que unifica o pensamento, massifica a cultura e pasteuriza a existência.
Sei que estou agora absorvendo informações polêmicas e novas teorias que estão a borbulhar dentro de mim mesma, mas de certa forma não temo a ebulição. Nada disso chegou até mim a toa. Eu busquei consciente. E agora recebo. Então deixa a corrente fluir, deixa ser livre, o melhor é não saber mesmo no que vai dar... por que dos caminhos conhecidos eu já sei bem o que não quero.


El Roque Nublo, Islas Canárias, España

terça-feira, 17 de maio de 2011

A Economia, As Pessoas e o Meio Ambiente, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira

Fonte: Portal EcoDebate, 12/05/2011

Indiscutivelmente, não há como refutar uma assertiva: crescer economicamente é usar o meio ambiente e, em decorrência desse atual “uso”, crescer significa, grosso modo, “destruir”. Dessa forma, essa premissa pode ser assim reescrita: “Consome-se, logo, destrói-se”. “Produz-se mais, logo, agride-se mais”.

Pois bem. Numa sociedade centrada no uso e na força do dinheiro como elemento potencializador do consumo, outra premissa tende, por primazia, a se estabelecer: “o consumo consome o consumidor”, como diz acertadamente Frei Betto em “A Mosca Azul”.




No entanto, paira diante disso uma crucial e instigadora pergunta: como produzir para atender a desejos de consumo cada vez mais ilimitados se há visivelmente limites e pré-condições impostas e conhecidas pela natureza que impossibilitam, sobremaneira, esse atendimento em escala crescente?

Como há desejo de prontamente atender as necessidades mercadológicas impostas pelo apelo consumista, por sinal cada vez mais voraz, deve-se ter em conta aquilo que Clóvis Cavalcanti chama a atenção com bastante veemência: “mais economia implica menos ambiente”.

Na esteira dessa análise, frequentemente temos visto a incidência de um equívoco conceitual que impera no seio da economia tradicional insistindo em não diferenciar crescimento (aumento – quantitativo) de desenvolvimento (melhoria – qualitativa).

De um lado têm-se a receita tradicional da macroeconomia, qual seja: buscar o crescimento econômico ilimitado. Do outro, têm-se a questão ecológica que atesta a não existência de recursos naturais em quantidades disponíveis para a ocorrência desse tal crescimento.

Conquanto, o que precisa ficar esclarecido é que uma maior produção econômica irá derrubar mais florestas, irá agredir o solo, usar mais água, o ar, a energia, pondo em risco a estabilidade do clima que, por sinal, já vem capenga dada a agressão constante do processo produtivo sobre as coisas da natureza.


Outrossim, crescer além da conta significa aumentar o intercâmbio global de produtos, o que resulta enfraquecer substancialmente o mercado interno em nome do exclusivo atendimento ao modelo de globalização que recomenda como “receita de sucesso” que tenhamos sempre a geladeira repleta de produtos importados.

Ora, é simplesmente insano fazer com que um ketchup, por exemplo, vindo dos Estados Unidos “viaje”, às vezes, mais de 10 mil quilômetros para chegar ao mercado brasileiro quando poderia ser produzido domesticamente e “viajar” menos de 1.000 km para chegar às mesas dos brasileiros. Há um gasto energético intenso envolto nessa “viagem” do ketchup de fora para cá que é altamente agressivo sobre o meio ambiente e potencialmente gerador de CO2. Tomemos outro exemplo: a fruta nectarina produzida em Badajoz, na Espanha, “viaja” quase 400 quilômetros de caminhão queimando combustível até chegar a Portugal, no Porto de Lisboa. De lá vem ao Brasil, chegando ao Porto de Santos vinte dias depois. Imaginemos o quanto não foi gasto em termos energéticos nesse processo.


Isso é inadmissível numa sociedade que já consome em energia e recursos o equivalente a um planeta e 1/3. Acreditar nesse modelo é continuar jogando terra sobre a capacidade de se obter desenvolvimento, pois isso está longe de melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Portanto, diante disso há outra assertiva que não pode ser refutada: se a economia desde seus estudos iniciais emergidos da Filosofia Moral tem como fito precípuo promover o bem-estar das pessoas é impossível aceitar pacificamente que os modelos econômicos continuem ignorando dois elementos fundamentais, as pessoas e o meio ambiente.

Definitivamente, a economia (ciência) só possui sentido de existência se, e somente se, incorporar em suas análises as pessoas e passar, de forma definitiva, a tratar com relevância a questão ambiental, visto que depende dessa para tudo. Historicamente, tanto as pessoas como a questão ambiental tem sido relegadas a um segundo plano, numa visão míope da economia que se sobrepuja arrogantemente sobre o meio ambiente, não reconhecendo ser apenas um subsistema desse meio ambiente. Não incorporando em seus modelos e análises as pessoas e o ecológico, a ciência econômica tende a continuar como está: apenas respondendo pelo crescimento e fechando os olhos para o crucial, o desenvolvimento sócio-ambiental-humano. Não trilhando os caminhos que conduzem a um sistema econômico mais fraterno e ambientalmente saudável, fica a economia cada vez mais longe de seu pressuposto elementar nascido com o intuito de proporcionar melhoria de vida a todos.




Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. É articulista do Portal EcoDebate, do site “O Economista”, da Agência Zwela de Notícias (Angola) e do jornal Diário Liberdade (Galiza, Europa).
Contatos:
e-mail – prof.marcuseduardo@bol.com.br
Twitter – http://twitter.com/marcuseduoliv


terça-feira, 10 de maio de 2011

Movimento Transition Towns chega à Fortaleza


Movimento Transition Towns chega à Fortaleza

Estimular habilidades necessárias para se iniciar um processo de transição que vise à sustentabilidade dos meios urbanos a partir da transformação de cidades insustentáveis, de moradores demasiados consumistas, em cidades menos dependentes do petróleo, com pessoas mais conscientes e interligadas à natureza. É com este objetivo que Fortaleza recebe, nos dias 14 e 15 de maio, o treinamento Transition Towns. Iniciativa da Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano da Prefeitura Municipal de Fortaleza - SEMAM, em parceria com as ONG´s Maloca Sustentável e Cura do Planeta e com o Instituto Nordeste Cidadania – Inec, o treinamento será facilitado pela educadora e designer em sustentabilidade May East – também Diretora da Gaia Education e integrante da rede internacional de treinadores do Movimento Cidades em Transição - e pelo arquiteto e fundador do Instituto Centro de Referência Integração e Sustentabilidade – CRIS, Marcelo Todescan.

Com a idéia de unir e mobilizar pessoas de determinada região, seja moradores de uma rua, de um bairro e até de uma cidade para discutir problemas do meio urbano nos segmentos sociais, ambientais, econômicos e culturais e propor soluções resilientes, o movimento chega a Fortaleza no intuito de ter a sua metodologia aplicada na primeira área de proteção ambiental (APA) administrada pelo município de Fortaleza, a Sabiaguaba.

De acordo com Luciana Campos, Presidente da Maloca Sustentável, “A filosofia e a metodologia do Transition Towns está em consonância com as diretrizes apontadas pelo Plano de Manejo das Unidades de Conservação da Sabiaguaba. Assim, o objetivo do treinamento é capacitar agentes e parceiros para atuarem de forma integrada na implantação do primeiro bairro ecológico de Fortaleza, a Sabiaguaba”.

Para o Coordenador de Políticas Ambientais da Secretaria Municipal de Fortaleza – Semam, Rafael Tomyama, “para que a cidade cumpra seu papel sócio-ambiental de forma adequada, é necessário um planejamento urbano de longo prazo onde se aliem poderes públicos, empresas, universidades e sociedade em geral, por uma vida realmente sustentável. O Movimento Transition Towns (Cidades em Transição) nos leva a refletir e nos mobiliza para a ação de realizar este sonho de cidade sustentável na perspectiva da totalidade, do (re)encontro das pessoas consigo mesmas e com a natureza, da qual somos parte inseparável”.

As cidades em transição crescem cada vez mais no Brasil. Cidades como Brasilândia, Boiçucanga, Granja Viana, João Pessoa, Alto Paraíso de Goiás, Laranjeiras, Cosme Velho, Alphaville, Porto Alegre, Grajaú, Curitiba e Botafogo já entraram no movimento. Agora é a vez de Fortaleza!

O Movimento Transition Towns

O movimento das Cidades em Transição, ou Transition Towns, foi criado pelo inglês Rob Hopkins com o objetivo de transformar as cidades em modelos sustentáveis, menos dependentes do petróleo, mais integradas à natureza e mais resistentes a crises externas, tanto econômicas quanto ecológicas. Hoje o movimento se faz presente em 34 países do mundo. Já são 360 cidades oficiais e mais de 373 iniciativas preparando-se para a Transição. As iniciativas de transição criam um processo promissor que engaja pessoas, comunidades, instituições e cidades para, juntos, pensarem e implementarem as ações necessárias de curto e longo prazo para enfrentar duas questões emergentes que já começam a se fazer sentir: as mudanças climáticas e o pico do petróleo.

Os facilitadores do Treinamento em Fortaleza

Marcelo Todescan
Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie,com 20 anos de experiência. Possui cursos de extensão universitária em Direito Ambiental, nas Faculdades Metropolitanas Unidas, e treinamento em Ecovilas, Permacultura, Bio-construção, Energia Renováveis, Saúde nas Ecovilas e Ecologia Profunda. Membro da Ecovillage Network of the Américas – Brasil, Gaia Education e Transition Towns. Sócio do escritório Todescan Siciliano Arquitetura, membro e Fundador do Instituto CRIS Referencia Integração Sustentabilidade. Membro Fundador da revista GEA – Global Ecologia Arquitetura, e membro, articulador e treinador oficial da rede Transition Towns Brasil.
May East
Educadora e designer para Sustentabilidade. Trabalha internacionalmente com o movimento global das ecovilas e como consultora de assentamentos humanos sustentáveis e cidades em transição. Mora há 19 anos na Ecovila Findhorn da Escócia, onde é Diretora de Relações Internacionais entre Findhorn Findhorn e Global Ecovillage Network junto a ONU. É Diretora do Programa Gaia Education, um consórcio internacional de designers de sustentabilidade presente em 23 países. Membra do CEO do CIFAL Findhorn, Centro de Treinamneto Associado a UNITAR- United Nations Institute of Training and Research, que oferece treinamentos em design ecológico para urbanistas e autoridades locais. May faz parte da rede internacional de treinadores das Cidades em Transição.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sementes sequestradas – É necessário apostar em outro modelo de agricultura e alimentação, artigo de Esther Viva


Quem ouviu falar alguma vez do tomate lâmpada, da berinjela branca ou da alface língua de boi? Difícil. Trata-se de variedades locais e tradicionais que ficaram à margem dos canais habituais de produção, distribuição e consumo de alimentos. Variedades em perigo de extinção.


A nossa alimentação atual depende de algumas poucas variedades agrícolas e de gado. Apenas cinco variedades de arroz proporcionam 95% das colheitas nos maiores países produtores e 96% das vacas de ordenha no Estado Espanhol pertence a uma só raça, a frisona-holstein, a mais comum a nível mundial em produção leiteira. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), 75% das variedades agrícolas desapareceram ao longo do último século.

Mas esta perda de agrodiversidade não tem somente consequências ecológicas e culturais, mas implica, também, no desaparecimento de sabores, de princípios nutritivos e de conhecimentos gastronômicos, e ameaça a nossa segurança alimentar ao depender de algumas poucas espécies de cultivo e de gado. Ao longo dos séculos, o saber camponês foi melhorando as variedades, adaptando-as às diversas condições agroecológicas a partir de práticas tradicionais, como a seleção de sementes e cruzamentos para desenvolver cultivos.

As variedades atuais, em contrapartida, dependem do uso intensivo de produtos agrotóxicos, pesticidas e adubos químicos, com um forte impacto ambiental e que são mais vulneráveis às secas, a doenças e pragas. A indústria melhorou as sementes para adaptá-las aos interesses de um mercado globalizado, deixando em segundo lugar as nossas necessidades alimentares e nutritivas com variedades saturadas de químicos e tóxicos, como aborda o documentário ”Notre poison quotidien” (O nosso veneno diário) de Marie-Monique Robin, estreado recentemente na França.


Até cem anos atrás, milhares de variedades de milho, arroz, abóbora, tomate, batata… abundavam em comunidades camponesas. Ao longo de 12.000 anos de agricultura, manipularam cerca de 7.000 espécies de plantas e vários milhares de animais para a alimentação. Mas hoje, de acordo com dados da Convenção sobre a Diversidade Biológica, apenas quinze variedades de cultivos e oito de animais representam 90% da nossa alimentação.

A agricultura industrial e intensiva, a partir da Revolução Verde, nos anos 60, apostou em alguns poucos cultivos comerciais, variedades uniformes, com uma base genética estreita e adaptadas às necessidades do mercado (colheitas com máquinas pesadas, preservação artificial e transporte de longas distâncias, uniformização do sabor e da aparência). Políticas que impuseram sementes industriais com o pretexto de aumentar a sua rentabilidade e produção, desacreditando as sementes camponesas e privatizando o seu uso.

Desta maneira, e com o passar do tempo, foram emitidas patentes sobre uma grande diversidade de sementes, plantas, animais, etc., corroendo o direito camponês de manter as suas próprias sementes e ameaçando meios de subsistência e tradições. Através destes sistemas, as empresas se apropriaram de organismos vivos e, através, da assinatura de contratos, o campesinato passou a depender da compra anual de sementes, sem possibilidade de poder guardá-las após a colheita, plantá-las e/ou vendê-las na temporada seguinte. As sementes, que representavam um bem comum, patrimônio da humanidade, foram privatizadas, patenteadas e, finalmente, “sequestradas”.



A generalização de variedades híbridas – que não podem ser reproduzidas – e os transgênicos foram outros dos mecanismos utilizados para controlar a sua comercialização. Estas variedades contaminam as sementes tradicionais, condenando-as à extinção e impondo um modelo dependente da agro-indústria. O mercado mundial de sementes está extremamente monopolizado e apenas dez empresas controlam 70% desse mercado.

Como indica a Via Campesina – maior rede internacional de organizações camponesas – “somos vítimas de uma guerra pelo controle das sementes. Nossas agriculturas estão ameaçadas por indústrias que tentam controlar nossas sementes por todos os meios possíveis. O resultado desta guerra será determinante para o futuro da humanidade, porque das sementes dependemos todos e todas para nossa alimentação diária”.

Do dia 14 ao 18 de Março, foi realizada a quarta sessão do Tratado Internacional sobre os Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura, em Bali. Um tratado fortemente criticado por movimentos sociais como a Via Campesina, considerando que reconhece e legitima a propriedade industrial sobre as sementes. Embora o seu conteúdo reconheça o direito dos camponeses à venda, à troca e à semeadura, o Tratado, de acordo com os seus denunciantes, não impõe estes direitos e claudica perante os interesses industriais.

Hoje, mais do que nunca, num contexto de crise alimentar, é necessário apostar em outro modelo de agricultura e alimentação que se baseia nos princípios da soberania alimentar e na agroecologia, a serviço das comunidades e nas mãos do campesinato local. Manter, recuperar e trocar as sementes camponesas é um ato de desobediência e responsabilidade, a favor da vida, da dignidade e da cultura.




Por: Esther Vivas, colaboradora internacional do Portal EcoDebate, é autora do livro “Do campo ao prato. Os circuitos de produção e distribuição de alimentos”.

Fonte: Artigo publicado em Portal Ecodebate, em 15/04/2011.
** Traduzido ao português por Tárzia Medeiros.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Bolívia cria Lei da Mãe Terra

País dá exemplo ao mundo

A Bolívia está em vias da aprovar a primeira legislação mundial dando à natureza direitos iguais aos dos humanos. A Lei da Mãe Terra, que conta com apoio de políticos e grupos sociais, é uma enorme redefinição de direitos. Ela qualifica os ricos depósitos minerais do país como "bençãos", e se espera que promova uma mudança importante na conservação e em medidas sociais para a redução da poluição e controle da indústria, em um país que tem sido há anos destruído por conta de seus recursos, informa o Celsias.

Na Conferência do Clima de Cancun, a Bolívia destoou da maioria quando declarou que todo o processo era uma farsa, e que países em desenvolvimento não apenas estavam carregando a cruz da mudança do clima como, com novas medidas, teriam de cortar também mais suas emissões.

A Lei da Mãe Terra vai estabelcer 11 direitos para a natureza, incluindo o direito à vida, o direito da continuação de ciclos e processos vitais livres de alteração humana, o direito a água e ar limpos, o direito ao equilíbrio, e o direito de não ter estruturas celulares modificadas ou alteradas geneticamente. Ela também vai assegurar o direito de o país "não ser afetado por megaestruturas e projetos de desenvolvimento que afetem o equilíbrio de ecossistemas e as comunidades locais".

Segundo o vice-presidente Alvaro García Linera. "ela estabelece uma nova relação entre homem e natureza. A harmonia que tem de ser preservada como garantia de sua regeneração. A terra é a mãe de todos". O presidente Evo Morales é o primeiro indígena americano a ocupar tal cargo, e tem sido um crítico veemente de países industrializados que não estão dispostos a manter o aquecimento da temperatura em um grau. É compreensível, já que o grau de aquecimento, que poderia chegar de 3.5 a 4 graus centígrados, dadas tendências atuais, significaria a desertifição de grande parte da Bolívia.

Esta mudança significa a ressurgência da visão de um mundo indígena andino, que coloca a deusa da Terra e do ambiente, Pachamama, no centro de toda a vida. Esta visão considera iguais os direitos humanos e de todas as outras entidades. A Bolivia sofre há tempos sérios problema ambientais com a mineração de alumínio, prata, ouro e outras matérias primas.

O ministro do exterior David Choquehuanca disse que o respeito tradicional dos índios por Pachamama é vital para impedir a mudança do clima. "Nossos antepassados nos ensinaram que pertencemos a uma grande família de plantas e animais. Nós, povos indígenas, podemos com nossos valores contribuir com a solução das crises energética, climática e alimentar". Segundo a filosofia indígena, Pachamama é "sagrada, fértil e a fonte da vida que alimenta e cuida de todos os seres viventes em seu ventre."



Fonte: Planeta Sustentável

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Lançada campanha nacional permanente contra o uso de agrotóxicos e pela vida


Movimentos sociais e pesquisadores afirmam que é possível e urgente produzir sem venenos que afetam a saúde humana e do meio ambiente

Suco de frutas, verduras, legumes, cereais. Alimentação saudável? Nem sempre. Lançada nesta semana, no Dia Mundial da Saúde (7 de abril), a Campanha permanente contra o uso de agrotóxicos e pela vida pretende alertar que o veneno usado nos cultivos agrícolas brasileiros prejudica muito a saúde das pessoas e do meio ambiente. De acordo com a organização da campanha, com os atuais níveis de utilização de agrotóxicos, cada brasileiro consome em média 5,2 kg de veneno por ano e o Brasil foi considerado em 2009, segundo o sindicato dos próprios produtores de defensivos agrícolas, o maior consumidor destas substâncias pelo segundo ano consecutivo. A campanha é organizada por mais de 20 entidades e movimentos sociais, que pretendem realizar atividades em todo o país para conscientizar sobre a necessidade de outro modelo de produção agrícola, sem utilização de veneno e baseado no respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente, para aí, sim, produzir alimentos verdadeiramente saudáveis.

A campanha escolheu o Dia Mundial da Saúde para lançar oficialmente as atividades. Mas, mesmo antes da data, seminários, palestras e outros eventos tiveram como tema o prejuízo dos agrotóxicos à saúde. Em Brasília, uma passeata contra o uso de agrotóxicos e em defesa do código florestal reuniu mais de duas mil pessoas. A atividade fez parte da Jornada contra o Uso de Agrotóxicos, em Defesa do Código Florestal e pela Reforma Agrária, realizada nos dias 6 e 7 de abril. O professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília, Fernando Carneiro, presente nas atividades da jornada, conta que os eventos foram lotados. Para ele, lançar a campanha no Dia Mundial da Saúde é muito simbólico. “Quando se fala de saúde da nossa população sempre se associa à fila de hospitais, mas hoje [7 de abril] foi uma manhã histórica porque estávamos discutindo verdadeiramente o conceito ampliado de saúde, discutindo o modelo agrícola brasileiro, o que este modelo tem gerado em termos de impacto às populações e as dificuldades do próprio sistema de saúde em notificar os problemas decorrentes do uso de agrotóxicos”, detalha.

O professor explica porque as lutas contra o uso de venenos na agricultura e em defesa do código florestal são convergentes. “A bancada ruralista quer alterar a legislação para liberalizar os agrotóxicos. No código florestal, vemos o mesmo movimento. E quem está por trás destas duas articulações é o próprio agronegócio: querem desmatar mais áreas e querem ter isenção de impostos para agrotóxicos. Além disso, os temas se relacionam porque à medida que se limita a proteção das nascentes com a mudança no código florestal, por outro lado, se facilita a contaminação da água pelos próprios agrotóxicos. Então, são temas com interação muito grande, que significam ameaça à biodiversidade, à qualidade da água, elementos vitais para o nosso país”, diz.

Para a coordenadora do Sistema Nacional de Informações Toxico Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rosany Bochner, é necessário negar totalmente o uso dos agrotóxicos devido aos prejuízos que tem causado à saúde. “É preciso deixar claro que o que queremos com a campanha não é usar produtos menos tóxicos, não é nada paliativo. Nós não queremos mais agrotóxicos de nenhuma forma. É uma mudança de filosofia, temos que partir para produzir diversidade. Vamos ter que comer diferente, que fazer muita coisa e não depende só do agricultor, depende também da população, porque do jeito que está não é possível mais ficar”, reforça. Rosany, que também é consultora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), participou, junto à EPSJV/Fiocruz e a Via Campesina, de um seminário na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) sobre os impactos dos agrotóxicos.

No dia 7 de abril, também foram realizadas atividades no Espírito Santo, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais, Sergipe e Goiás. Em Limoeiro do Norte, no Ceará, nos dias 19 e 20 de abril, serão realizadas várias mobilizações contra o uso de agrotóxicos e em protesto pela impunidade do assassinato do líder comunitário José Maria Filho, conhecido como Zé Maria do Tomé, que denunciou os impactos dos agrotóxicos na região. No dia 21 de abril faz um ano que o agricultor foi assassinado próximo de casa e as investigações, até o momento, não apontaram os autores do crime.

Também no Dia Mundial da Saúde, na Câmara Federal, uma subcomissão especial criada para avaliar as conseqüências do uso de agrotóxicos para o país realizou uma audiência pública sobre o tema com a presença da Anvisa, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), órgão favorável ao uso dos venenos nos cultivos. De acordo com a Agência Câmara, Anvisa e MPA divergiram radicalmente do representante da CNA. “Enquanto a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) defendeu a modernização do uso desses insumos, um representante da Anvisa e uma deputada apontaram os efeitos negativos para a saúde humana. Já o representante dos pequenos agricultores defendeu o fim do uso dos agrotóxicos”, informou a Agência Câmara.

Riscos à saúde

O material da campanha alerta que os agrotóxicos causam uma série de doenças como câncer, problemas hormonais, problema neurológicos, má formação do feto, depressão, doenças de pele, problemas de rim, diarréia, entre outras. Recentemente, uma pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul detectou a presença de agrotóxicos no leite materno. “Diante de tantas evidências de problemas, não há mais o que discutir. Este leite envenenado é muito grave, não dá mais para ter meio termo. Sabemos que é uma luta de Davi contra Golias, porque são empresas extremamente poderosas [as empresas produtoras de agrotóxicos]. Mas eu queria saber se eles comem estes produtos cheios de agrotóxicos”, questiona Rosany.

Além da proibição definitiva do uso de venenos, a campanha afirma ainda que a saída para uma alimentação saudável e diversificada está no fortalecimento da agricultura familiar e camponesa. Para isso, propõe uma série de ações, como a reforma agrária para acabar com os latifúndios, o fim do desmatamento, a geração de trabalho e renda para a população rural, o uso de novas tecnologias para acabar com a utilização de agrotóxicos e a produção baseada na agroecologia.

De acordo com Rosany, a Anvisa está muito disposta a discutir o uso destes produtos tóxicos, entretanto, existe uma resistência de setores do próprio governo e do legislativo. “Tem uma bancada ruralista que quer liberar a todo custo os agrotóxicos”, pontua. A pesquisadora destaca também as dificuldades de informação sobre os riscos de agrotóxicos no sistema de saúde. “Não estamos acostumados a trabalhar com casos crônicos, as redes de saúde não conseguem relacionar os sintomas com a exposição aos agrotóxicos, dificilmente as pessoas fazem essa relação e isso dificulta muito na hora da discussão porque eles [os defensores do uso de agrotóxicos] falam que não temos evidências. Temos que fazer um esforço maior nisso, fazer um treinamento melhor nos serviços de saúde, mas é preciso investimento”, afirma.

Para Fernando Carneiro, o Ministério da Saúde ainda é muito omisso em relação ao enfrentamento do problema de identificação das intoxicações, tanto no campo da saúde do trabalhador, quanto da saúde ambiental. “Eu quero que o Ministério da Saúde faça campanha sobre os riscos dos agrotóxicos. Como faz com a campanha contra a Aids, pelo uso da camisinha. O Ministério poderia investir também para fazer cartilhas e difundir informações sobre os riscos dos agrotóxicos. Hoje, o único setor que faz propaganda é o próprio agronegócio, para fazer apologia ao uso”, alerta.

Reportagem de Raquel Júnia – Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio – EPSJV/Fiocruz, publicada pelo EcoDebate, 11/04/2011

Fortaleza perdeu 90% de cobertura vegetal em 35 anos


Matéria publicada no Jornal cearense Diário do Nordeste, no dia 03 de abril de 2011

O que restou de vegetação nativa sofre com podas muitas vezes desnecessárias e falta de plano de arborização


Segundo o Inventário Ambiental de Fortaleza nos anos 1968 e 2003, a cidade perdeu cerca de 90% de sua cobertura natural. Isso coloca o fortalezense em contexto de baixa qualidade de vida, pois existe menos de 4 m2 de área verde por habitante na cidade. Em 1968 a cidade tinha 66% de áreas verdes. Em 2003, o Município contava apenas com 7% de vegetação, representando uma perda de quase 90%.

Quem mora em Fortaleza sente na pele o que é viver numa cidade cheia de problemas ambientais. As agressões tanto à natureza quanto aos moradores da cidade parecem não ter fim - e nem alternativas. Na verdade, as soluções existem, apontam especialistas. E todas começam no mesmo lugar: numa mudança na forma de encarar os problemas por parte do Poder Público. Fato que está longe de acontecer. Promessas existem, mas ficam no vazio do plano das ideias, nada mais.

Sem um plano de arborização, aponta a arquiteta Mariana Reynaldo, a cidade tem perdido gradativamente os espaços verdes. As vias estão cada dia mais desnudas devido o corte de árvores de forma indiscriminada ou a queda de algumas espécies. "Isso sem falar de verdadeiros absurdos contra o meio ambiente como a destruição das raízes para a construção de canteiros ou a passagem de tubulação", aponta ela.

O fato denunciado pela arquiteta foi constatado pela reportagem do Diário do Nordeste. Em plena Avenida Jovita Feitosa, numa obra do Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor), operários cortaram as raízes de árvores para fazer o canteiro central. A direção do Programa não se pronunciou até o fechamento dessa edição.

A questão, aponta o engenheiro agrônomo Pedro Henrique Albuquerque, é que Fortaleza se transformou numa cidade de concreto. Na média, o município possui menos de quatro metros quadrados de área verde por habitante, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) define um mínimo de 12 m²/hab para uma boa qualidade de vida. A cidade de Maringá (Paraná), considerada referência nacional em meio ambiente sustentável, possui 13,6 m2 de área verde por habitante.



Plano

A Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam) promete implantar um Plano de Arborização para "logo". Promessa contestada pela bióloga Joana Marinho. "Faz tempo que ouço falar sobre isso e entra ano e sai ano e fica por aí mesmo".

Para moradores do entorno de avenidas como a Carapinima, como a estudante Érica Araújo, não dá mais para esperar tanto tempo. "Aqui é um verdadeiro deserto do Saara sem um pé de árvore". Pelo visto, a situação tende a perdurar. A Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb) já avisou que ali, devido ao Metrô de Fortaleza, tudo ficará como está: só asfalto.

Informação essa que não surpreende especialistas como o engenheiro agrônomo Antonio Tavares, professor da Universidade Federal de Parnaíba. De acordo com ele, "parece que estamos andando na contramão da história". Como a cidade não foi planejada levando em conta a arborização urbana, aponta, existem poucos espaços disponíveis para receber árvores.

Além disso, a vegetação urbana de Fortaleza é tão irrisória que pouco pode contribuir para a melhoria do ambiente térmico da cidade. Para o professor Tavares, em seu blog "Árvores do Tavares", o problema ambiental mais grave de Fortaleza consiste tanto na falta de vegetação, quanto no manejo inadequado das poucas árvores que restam, que consiste em podas abusivas. Os canteiros criaram um problema adicional. Eles são excessivamente estreitos e impermeabilizados. As raízes precisam de oxigênio e água para se desenvolverem. O aumento da impermeabilização aumenta também os riscos de enchentes.

O vereador João Alfredo, calcula que o nosso déficit seja de três mil hectares de área verde. "Além de não termos uma política de preservação nem de arborização, muitas vezes, se autoriza, como no caso do bosque da Aldeota, a supressão de todas as árvores do terreno para empreendimentos imobiliários", aponta o parlamentar.

Bairro Aldeota

Nos últimos seis anos, apenas duas unidades de conservação foram criadas em Fortaleza: uma pela Prefeitura, na Sabiaguaba, outra pela Câmara, nas Dunas do Cocó, por autoria nossa. "Em suma, falta à cidade uma política pública ambiental". Segundo ele, a tendência mundial consiste em adotar modelos de planejamento e gestão urbana que seguem premissas ecológicas. "A cidade não é mais considerada como uma antítese da natureza e sim parte dela", assevera.

Sensação térmica tem razão de ser

A ocupação desordenada do solo, a ausência de arborização, a retirada da cobertura vegetal de maneira extensiva têm reflexos no clima e consequências diretas na qualidade de vida. O alerta da engenheira agrônoma, Célia Regina do Amaral, é compartilhada pelo meteorologista José Maria Brabo, da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

Segundo Brabo, a amplitude térmica da cidade - a diferença entre as temperaturas máximas e mínimas - vem diminuindo gradativamente. Atualmente na quadra chuvosa, explica ele, a temperatura de Fortaleza fica entre 27º a 28º. A partir de julho, já em tempo seco, o termômetro mede entre 29º e 30º.

Segundo ele, as variáveis que atuam para a sensação térmica mais quente ou fria são a umidade relativa do ar e os ventos. Quanto maior a umidade, maior o calor. Os ventos são responsáveis por atenuar esse quentura toda e eles estão sendo "barrados" tanto pela verticalização quanto pela impermeabilização do solo.

Onde existe muito asfalto e pouca arborização o desconforto térmico piora. Isso procede cientificamente, explica Brabo. É exatamente em decorrência da diminuição dos ventos e sua velocidade. Ele lembra que há uns sete anos a brisa vinha do oceano a uma velocidade média de 12 km por hora. Hoje, devido aos prédios, asfalto e falta de árvores, consegue chegar a 10km por hora. Indignada com a situação, a engenheira agrônoma Célia Regina aponta que os gestores de Fortaleza parecem ignorar que toda tomada de decisão urbana resulta em impactos ambientais para a cidade, e uma delas é o aumento sensação térmica.

Corte de várias árvores em terreno imobiliário na
Av. Senador Virgilio Távora esquina com Av. Santos Dumont

Emlurb

O responsável pela poda das árvores da Empresa de Limpeza de Limpeza e Urbanização (Emlurb), Franzé Sidrão, reconhece que é preciso fazer mais do para salvar as áreas verdes. Por mês, a empresa corta, em média, 80 árvores em risco e promove a poda de 1.500.

A poda também é alvo de questionamentos. Sidrião rebate a crítica afirmando que todo o corte é realizado depois que um laudo é feito por técnicos do Distrito Ambiental de cada Regional. E diz que para cada árvore cortada, duas devem ser plantadas na cidade.

ENTREVISTA

*Fernanda Rocha

Fortaleza se expande conservando situações incompatíveis. Como a Srª avalia a falta de arborização em Fortaleza?

Trata-se de uma questão cultural: a cidade cresceu ignorando seu sitio original, negando as potencialidades existentes, pautando-se em padrões e modelos exógenos, que priorizavam aspectos à época inovadores (automóvel, indústria, etc). Além disto, vem solenemente desprezando diretrizes previstas em seus instrumentos legais. Desta forma a cidade se expande conservando situações incompatíveis com novas realidades.

Quais as espécies mais adequadas para serem plantadas em canteiros centrais e calçadas ?

Nos canteiros centrais, pode-se pensar em árvores de maior porte e até frutíferas. Já em calçadas, deve-se adequar o porte da espécie ao espaço disponível de modo a não reduzir a mobilidade.

Existe incompatibilidade entre iluminação pública e arborização em Fortaleza?

Na maioria das vezes, quando do plantio, as árvores ainda são jovens e se adaptam às condições existentes, mas com o passar do tempo, passam a necessitar de podas radicais, podendo até mesmo ter reduzido seu tempo de vida.

*Arquiteta e Urbanista e professora da Unifor - viva.arte@uol.com.br



quarta-feira, 6 de abril de 2011

III Encontro Nordestino de Educação e Cidadania e III Encontro Nordestino de Educação Biocêntrica

III Encontro de Educação e Cidadania e III Encontro Nordestino de Educação Biocêntrica

No ser

Ser inteiro no outro

No olhar, broto

Sorriso maroto

Lança,

Deslancha,

Brinca,

Grita,

Silencia,

Aquieta

(Poesia de Natália)


Quinta-feira, último dia de março, estou sentada no auditório do BNB Passaré. Vivencio a abertura do III Encontro Nordestino de Educação e Cidadania e Educação Biocêntrica enquanto escrevo algumas impressões. A chegada foi uma surpresa ao me deparar com quase 700 pessoas a circular e buscar suas credenciais. Quase duzentas pessoas a mais que as inscrições feitas antecipadas. Gente de todo Brasil, das comunidades parceiras do INEC e colaboradores de outros países. Os organizadores anunciaram que todos, mesmo sem inscrições seriam acolhidos pelo evento. Depois de receber nossas credenciais e compartilhar um farto café-da-manhã, sentamos na grama e ficamos a observar o intenso movimento dos participantes.

Logo na abertura do evento, no auditório repleto de pessoas, fomos presenteados com uma bela apresentação da Orquestra Filarmônica Estrelas da Serra composta por jovens e adolescentes e regida pelo maestro Hélio Jr. Emocionaram a platéia em uma apresentação contagiante. Tocaram diversos estilos incorporando o clima de cada um com adereços, coreografias e arranjos muito criativos. A platéia logo estava entregue à música dos garotos e dançava, cantava, aplaudia completamente entregue ao momento. Fico encantada em observar a espontaneidade do meu povo, cearense e brasileiro.

Somos um povo movido a alegria e amor é o recado da organização do evento para os participantes. Seguem-se falas de agradecimento e referência à educação transformadora, enquanto a energia de educadores visionários como Paulo Freire, Edgar Morin e Toro passeiam entre as fileiras apertadas da platéia.



Escolhemos o grupo de Arte e Cultura para o círculo de diálogo que aconteceu no final da manhã. Produzimos palavras geradoras e tive a alegria de ser relatora do grupo e transcrever em palavras nossos sentimentos que foram lidas junto aos relatos dos outros grupos.


O segundo dia do evento foi o dia mais intenso de atividades para nós. Pela manhã mesa e apresentações artísticas no auditório, seguidos dos círculos de diálogo. Dessa vez vivenciamos o de Meio Ambiente, no qual a dinâmica era diferente. Formamos dois círculos: o de dentro se expressava com o estímulo de palavras geradoras postas no solo presas a pedrinhas; o de fora observava. No final construímos uma árvore com as palavras geradoras. Manu foi a relatora e compartilhou nossa experiência para todos no auditório.
Passamos a tarde na companhia do padre Rino e dos índios Pitaguaris. Dançamos e cantamos para iniciar a tarde. Os tambores marcando a pulsação no Torem. Sentamos em círculo ao redor de filtros dos sonhos, colares, penas, pedras e diversos objetos de poder que mesclavam a tradição nativa norte-americana Lakota e do povo indígena Pitaguari, nativos das nossas terras ensolaradas. Senti um despertar da nossa ancestralidade. Percebi o quanto sei pouco sobre meus ancestrais e senti vontade imediata de indagar minha avó sobre essas coisas. Outro forte sentimento que permeou o encontro foi o de pertencer. Enquanto muitos jovens nativos indígenas nascidos em comunidades negam sua identidade cultural, muitos de nós que nem ao menos sabemos pistas sobre nossa etnia sentimos a força da cultura indígena pulsar em nossas veias. Enquanto Carlinhos falava sobre as dificuldades do FUNAI reconhecer alguém legalmente como índio me atravessava o pensamento: quem de nós brasileiros não tem um muito de índio também! Compartilhamos o cachimbo com ervas e menta para selar nosso entendimento. O dia acabou com uma gigantesca roda de biodança, uma caldeira a pulsar vida e a emanar amor ao nosso coração e ao cosmos.
O terceiro e último dia amanheceu chovendo. Chegamos no finalzinho do Maracatu e sentimos pela energia gerada no ambiente que a apresentação foi especial. Logo as salas das vivências ficaram lotadas. Consegui um cantinho e fui recebida com amor por Clevandira e Clélia em sua vivência para exercício da criatividade. Muita biodança troca de olhares, desenhos e abraços. O tempo passou voando. Depois do almoço, que foi gentilmente doado pelo evento, produzimos uma pequena apresentação utilizando nossos corpos e desenhos que compartilhamos em seguida com todos. Teve também bandinha com os meninos do Sussuí e Circo explodindo em cores e alegria.
A Maloca esteve presente com a participação de Núria, André, Paulo, Drica, Rafael Planta, Gisa e Luciana que apresentou uma vivência sobre o trabalho no Sussuí no primeiro dia pela tarde. Fica aqui nossa gratidão a toda a turma biocêntrica de educadores revolucionários que acreditam em uma educação viva e nos proporcionaram essa troca de conhecimento e vivencias.

Sou Drica Oliveira, arte-educadora e colaboradora da Maloca. Essa foi a minha experiência pessoal nesses dias biocêntricos que compartilho com vocês!