terça-feira, 27 de julho de 2010

A redescoberta do bambu.





Há milênios, ele dá forma a casas tradicionais no Japão e na China. Nos últimos anos, pesquisas avalizaram a resistência e durabilidade das varas na construção, enquanto sua versão laminada aparece em pisos e móveis


Ha duas décadas que a raça humana se depara (de forma sem precedentes na nossa história) com um novo conceito advindo de estudos e estatísticas acerca do consumo exacerbado por parte de nossa espécie de recursos naturais renováveis ou não;É o conceito de sustentabilidade. Esse conceito atualmente permeia todas as ações humanas, e não poderia ficar de fora da construção civil pois, pasmem, é a atividade humana mais poluidora que existe( em quantidade).

A necessidade de repensar o consumo de materiais na construção e na decoração para torná-las mais sustentáveis, atrai olhares para novas alternativas. É o caso do bambu, visto como a promessa para este século. Pesquisador desse recurso há mais de 30 anos, o professor Khosrow Ghavami, do Departamento de Engenharia Civil da PUC-RJ, não tem dúvidas sobre seu potencial. "Estudei 14 espécies e três delas, em especial, têm mais de 10 cm de diâmetro e são excelentes para a construção", diz ele, referindo-se ao guadua (Guadua angustifolia), ao bambu-gigante (Dendrocalamus giganteus) e ao bambu-mossô (Phyllostchys pubescens).

Todos estão presentes no Brasil, onde existem grandes florestas inexploradas. No Acre, por exemplo, os bambuzais cobrem 38% do estado. De crescimento rápido, essa gramínea chama a atenção, a princípio, pela beleza. Mas a resistência também surpreende: de frágil, ela não tem nada. "Sua compressão, flexão e tração já foram amplamente testadas e aprovadas em laboratório", afirma Marco Antonio Pereira, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Unesp, em Bauru, SP. Esse tempo de corte do Bambu é uma das mais revolucionárias de suas características. Enquanto árvores consideradas de corte rápido, como o eucalipto, demoram 20 anos para atingir o amadurecimento ideal e outras espécies podem chegar até 60 anos, o bambu está perfeito para corte em apenas 3 anos, com um pequeno cálculo já se pode avaliar o tamanho avanço na solução de um problema crítico no mundo atualmente que é a questão do defcit habitacional.

Vários arquitetos estrangeiros têm apostado no bambu em projetos públicos. Na Espanha, o Aeroporto Internacional de Barajas, do britânico Richard Rogers, surpreende os usuários com seu forro, que suaviza a aparência da estrutura de concreto e aço. Em locais como esse, de uso intenso, a opção pelo material atesta a confiança na sua durabilidade e resistência, já que manutenções frequentes não seriam bem-vindas. Se tratado adequadamente, o bambu apresenta durabilidade superior a 25 anos, equivalente à do eucalipto. Esse "tratamento" se refere aos cuidados desde o corte( No período lunar correto), aos tratamentos para retirar o amido e prevenir o ataque de pragas como brocas e carunchos. Na verdade, há conhecimento de estruturas construídas de bambu que têm algumas centenas de anos, como é o caso do famoso Taj Mahal, com mais de 500 anos.

Além do autoclave, outro procedimento comum é o de submergir as varas em água durante 20 dias, também produz bons resultados. No Brasil, a carioca Celina Llerena, sócia-fundadora da Escola de Bioarquitetura e Centro de Pesquisa e Tecnologia Experimental em Bambu (Ebiobambu), em Visconde de Mauá, RJ, encabeça a lista dos entusiastas. "Visitei a Colômbia há alguns anos e voltei encantada com as possibilidades que o material oferece", conta a arquiteta.

Embora no Brasil esse recurso apareça ainda timidamente em projetos de arquitetura, moradias de bambu são mais comuns do que se imagina. A organização chinesa International Network for Bamboo and Rattan (Inbar) estima que mais de 1 bilhão de pessoas habitam construções desse tipo em todo o mundo. "A maioria delas, no entanto, foi erguida em países em desenvolvimento, com técnicas tradicionais que estão se perdendo", comenta o professor Khosrow. 

Em contrapartida, países como a Colômbia e o Equador mantêm programas de habitações populares que privilegiam o bambu por causa do baixo custo e, com isso, estão formando mão de obra capacitada. Para os arquitetos especializados no assunto, o desafio é trafegar por duas frentes: resgatar conhecimentos e divulgar o bambu para combater o déficit habitacional e apagar a ideia de que ele seria um material menos nobre aprimorando técnicas para a aplicação em projetos de alto padrão. 


Outra finalidade encontrada para a fibra do bambu, que é altamente resistente, veio através da indústria têxtil, ao divulgar o desenvolvimento de um tecido com a fibra do bambu.Parece perfeito: um tecido fabricado do bambu, matéria-prima abundante na natureza, de crescimento rápido e fácil manejo sustentável. Natural e ecológico, não fosse o que se esconde por baixo do pano: esses fios resultam de processos produtivos que não podem ser considerados "verdes", segundo Hans-Jürgen Kleine, químico com mais de 30 anos de experiência na indústria têxtil e de celulose e fundador da Associação Catarinense do Bambu. Para fabricar um tecido natural, as fibras vegetais precisam ter, no mínimo, 30 mm de comprimento - caso do algodão e do linho, mas não das espécies de bambu (que têm apenas entre 2 e 3 mm). "Para quebrá-las e transformá-las, a indústria utiliza o dissulfeto de carbono, altamente tóxico ao meio ambiente", explica Hans.
Diante de tudo isso, dá para termos uma noção da tamanha importância de se implantar, no Brasil, um programa oficial de estudo e prática de todas as qualidades do bambu, diminuindo assim inclusive boa parte da devastação de florestas em busca de madeira pra construção civil.
postado por Moacir Teixeira Júnior - Jr. Animal.







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